Filhos crescem e não têm vontade alguma de renunciar a seu quinhão de mundo; pais por sua vez sentem-se perdidos em meio à cornucópia de transformações que interferem no seu modo de levar o que lhes resta de vida, e esse insano compasso, cedo ou tarde, deságua num caos de proporções inéditas e desafiadoras, cuja solução talvez nunca se lhes revele. As dores da maternidade tornam-se ainda mais agudas quando a vida acha de aprisionar uma mulher independente, bem-sucedida e algo angustiada num casamento infeliz, caótico, até que tudo vem abaixo da maneira mais brutal.
Como quase todo mundo, Pilar passara boa parte da vida seguindo os conselhos bem-intencionados de parentes, amigos, namorados, gente muito interessada no seu bem, até que cansou de tanto altruísmo à sua volta. Como sua personagem em “Muito Louca”, Pilar aproveita a chegada à meia-idade para se libertar de alguns grilhões a que ela mesma se acorrentou. “Muito Louca”, como o título indica, é a representação bem-humorada de muitas mulheres nesse fascinante momento da vida, no qual a plenitude deixa-se vislumbrar com a maior nitidez possível numa vida limitada por essência. Mérito de um diretor que vem se provando um dos grandes de sua geração.
A vida é um intervalo curto entre nascer e morrer, durante o qual o homem persegue respostas para questões as mais complexas, as mais incômodas, sabendo que não irá encontrá-las — ou, pior, pensará tê-las encontrado, até que, muito tempo depois, terá de admitir que precipitara-se. Assim mesmo, cada um toma sua cruz e busca sentido para a caminhada, achando uma ou outra mão amiga, umas vacilantes, outras mais firmes, e o medo e a esperança muitas vezes acabam tornando-se uma coisa só. Mas amor pelo amor não basta. Há quem perca um tempo precioso querendo agradar o maior número de pessoas possível, pensando que assim pode, quem sabe, agradar a si mesmo.
Essa falha elementar vem sendo cometida reiteradas vezes ao longo da história, sempre por alguma razão psicologicamente complexa. Em comédias tão saborosas quanto inteligentes, Martino Zaidelis desbrava temas espinhosos, como a eterna busca por autonomia de mulheres feito Pilar, e não apenas sob o prisma da carreira. A dependência emocional é uma pedras angulares do roteiro de Andrés Aloi, Diego Ayala e Sebastián De Caro, que deixam para a protagonista a responsabilidade de os esgrimir. Natalia Oreiro transita de um para outro tema sem aperto nenhum, e sob a direção segura de Zaidelis, ela é mesmo a melhor coisa aqui.
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