Existem muitos livros de ficção inspirados em pessoas ou fatos reais. No entanto, também há casos em que a própria ficção inspira a realidade. Afinal, algumas situações descritas em obras da literatura acabaram se tornando verdadeiras. Simples coincidências, ou mostras da genialidade de autores, as “previsões do futuro” presentes nos livros são surpreendentes — e, em alguns casos, até deixam dúvidas sobre a existência de premonição.
A Revista Bula reuniu as principais obras que previram acontecimentos futuros em uma lista. A seleção foi realizada por meio de recortes de listas já existentes, disponíveis em sites e revistas. Ela inclui fatos descritos em obras clássicas como “Frankenstein”, de Mary Shelley; “Fausto”, de Goethe; e “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley. No entanto, também há previsões mais recentes, de títulos como “O Guia do Mochileiro das Galáxias”, de Douglas Adams; e “A Guerra dos Mundos”, de H. G. Wells.
“O Presidente Negro” foi o único romance adulto de Monteiro Lobato. Publicado em 1926, o enredo é centrado em Ayrton Lobo, um cobrador que sofre um acidente e é resgatado pelo professor Benson. O professor apresenta ao homem a sua invenção: uma máquina do tempo. O equipamento é destruído antes que Ayrton tivesse a chance de se transportar no tempo. Porém, com a narração da filha de Benson, Miss Jane, Ayrton conhece os detalhes da campanha presidencial dos Estados Unidos de 2228. Nela, um candidato negro derrota dois adversários, uma mulher e um branco conservador, e é eleito. Situação parecida com as eleições americanas de 2008, na qual Barack Obama venceu Hillary Clinton na disputa pela candidatura pelo partido democrata, e, posteriormente, derrubou o republicano John McCain nas urnas.
A televisão colorida foi lançada nos Estados Unidos em 1950. Apenas três anos depois, Ray Bradbury publicou o livro “Fahrenheit 451”, que tem como cenário os Estados Unidos dos anos 1990, época em que a sociedade é anti-intelectual e as pessoas estão proibidas de ler livros. Curiosamente, o sonho dos personagens é adquirir a própria televisão de parede, que permite uma espécie de imersão nas transmissões, tecnologia parecida com as projeções 3D da atualidade.
O livro “Neuromancer”, do escritor William Gibson foi lançado em 1984, época em que a internet acabara de nascer, mas na qual a World Wide Web ainda não existia. Mesmo assim, a obra de ficção científica trata de temas como inteligência artificial, ciberespaço e roubo de dados. O protagonista da história é Case, um ex-hacker — ou cowboy, como é chamado pelo autor — que foi afastado do trabalho depois de tentar roubar seus patrões. Os chefes envenenam Case com uma toxina, que danifica seu cérebro e o impede de se conectar à Matrix.
O livro “1984”, escrito pelo romancista, ensaísta e jornalista George Orwell, em 1948, é um romance distópico, traduzido para 65 idiomas. O enredo antecipou o surgimento da vigilância em massa, promovida na ficção por um dos personagens centrais: o Big Brother. Tornando-se praticamente uma entidade, o Grande Irmão observa tudo e todos com a ajuda das teletelas, espalhadas nos lugares públicos e nos lares.
“Admirável Mundo Novo”, lançado em 1932, é considerado um romance perturbador. Ele narra um futuro alternativo, no qual as pessoas são pré-condicionadas biologicamente e condicionadas psicologicamente a viverem em harmonia, mantendo a ordem e a moral, em uma sociedade organizada por castas. Apesar de abordar a manipulação biológica, apenas 40 anos mais tardes as primeiras manipulações genéticas começaram a surgir.
Embora os discursos ambientais tenham ganhado força principalmente nos anos 2000, a destruição da natureza em nome do desenvolvimento já havia sido abordada em 1829, na segunda parte do livro “Fausto”, de Goethe. O poema trágico, escrito em forma de uma peça de teatro, é considerado a abra prima do autor.
“O Guia do Mochileiro das Galáxias”, lançado por Douglas Adams em 1980, menciona o uso de uma tecnologia que surgiu apenas recentemente: a tradução automática de voz. A trama foi construída originalmente para uma série de rádio da BBC, e foi inspirada em um sonho de Douglas Adams durante uma viagem pela Áustria, quando o escritor estava chateado por não conseguir se comunicar com os moradores locais.
Um clássico da ficção científica, o “Frankenstein”, de Mary Shelley foi adaptado inúmeras vezes para o cinema e a TV. A obra narra a criação de uma criatura a partir de tecido morto de outras pessoas. Apenas décadas depois, as evoluções no campo da medicina possibilitaram o transplantes de peles e órgãos. O que em 1818, quando Frankenstein foi lançado, parecia improvável.
Arthur C. Clarke lançou em 1956 o livro “A Cidade e as Estrelas”, que menciona a realidade virtual. No entanto, o primeiro simulador com o uso da tecnologia foi criado dez anos mais tarde, em 1966. A trama se passava bilhões de anos no futuro, época em que os oceanos foram extintos e a humanidade decidiu abandonar a Terra.
Outra previsão tecnológica da literatura de ficção científica foi publicada por H. G. Wells, na obra “A Guerra dos Mundos”. Embora tenha sido lançado em 1903, o livro já considerava a existência de tanques de guerra, que só foram inventados 13 anos mais tarde. A história centra-se na invasão do planeta por ETs inteligentes, que contam com uma arma mortal carbonizadora e máquinas assassinas.