Roel Reiné mergulha de cabeça na estética trash ao explorar os caminhos de vingança em um faroeste sombrio e insólito. Neste conto, o fora da lei Guerrero retorna do abismo infernal para confrontar os homens que traíram sua confiança e selaram seu destino. O diretor foge dos moldes clássicos e adota um tom repleto de absurdos, compondo um cenário sufocante e cheio de reviravoltas. Guerrero, condenado à danação eterna, foi assassinado por seus próprios capangas, liderados por Red Cavanaugh, seu meio-irmão. Essa relação tensa e carregada de rivalidades não apenas impulsiona a narrativa, mas também aprofunda o drama ao revelar o abismo entre os dois: enquanto Red é tudo o que Guerrero não pode ser, o antagonismo entre eles ganha contornos de uma tragédia pessoal.
O roteiro, assinado por Brendan Cowles e Shane Kuhn, conduz o espectador entre o ambiente infernal e os saloons de Tombstone, onde Guerrero persegue Red incansavelmente. A escolha do nome da cidade é um trocadilho que funciona melhor em inglês, mas mantém seu impacto. As cenas de ação impressionam pela autenticidade, com tiroteios intensos e explosões reais, fruto de uma abordagem prática que dispensa o uso de CGI. Essa decisão, combinada à direção segura de Reiné, garante o engajamento do público, mesmo entre os que não têm familiaridade com as peculiaridades do gênero.
Após a morte, Guerrero emerge como uma figura marcada por cicatrizes físicas e emocionais que refletem os conflitos que moldaram sua existência. Sua jornada revela uma complexa busca por redenção e revanche, onde a figura do mestiço marginalizado contrasta diretamente com o privilégio de Red, branco e favorecido. Ambos compartilham a mesma origem humilde — filhos de uma prostituta —, mas apenas Guerrero carrega os traços do preconceito e da exclusão social. Esse contraste fortalece a narrativa, que oscila entre uma vingança pessoal e uma reflexão sobre desigualdade e identidade.
Visualmente, Reiné transporta o espectador para um inferno que combina brutalidade e estética minimalista. A imagem de um forno gigantesco que consome as almas condenadas e uma cadeira de tortura onde o diabo deixa suas marcas em brasa são elementos impactantes. Mickey Rourke, em alta desde “O Lutador” (2008), entrega uma performance magnética como o mestre do submundo, exalando uma mistura de autoridade e crueldade. Danny Trejo e Anthony Michael Hall também se destacam ao interpretar personagens que, em suas nuances grotescas, disputam o título de mais repulsivo.
Por trás da estética exagerada e dos elementos caricatos, “Inferno no Faroeste” é, antes de tudo, uma homenagem nostálgica aos clássicos do faroeste que moldaram a infância de Reiné na Holanda. Trata-se de uma obra pessoal e apaixonada, onde cada cena reflete um respeito profundo pelo gênero. Apesar de sua peculiaridade, o filme cativa por sua autenticidade, criando um equilíbrio singular entre o absurdo e o envolvente.
★★★★★★★★★★