Você vai ficar emocionado com história pouco conhecida de herói da Segunda Guerra, na Netflix Divulgação / Motion Blur Films

Você vai ficar emocionado com história pouco conhecida de herói da Segunda Guerra, na Netflix

No tortuoso percurso da existência, aprendemos a organizar nossas memórias em compartimentos íntimos, onde escondemos dores, arrependimentos e fantasmas do passado. Gavetas que, fechadas com cuidado, evitam que outros profanem seus segredos. Após o emblemático 8 de maio de 1945, Gunnar Sønsteby (1918-2012) decidiu lacrar sua gaveta mais sombria, repleta das lembranças de um dos períodos mais vergonhosos da humanidade, no qual foi forçado a atuar.  

“Número 24”, dirigido por John Andreas Andersen, revisita momentos cruciais da vida deste herói norueguês, transformando a autobiografia de Sønsteby em um drama de guerra repleto de nuances. Andersen desnuda as camadas de um personagem complexo: um idoso que carrega culpas e dilemas morais, mas que reconhece ter feito o que julgava certo. A narrativa equilibra a introspecção de um homem marcado pela história com cenas de ação e tensão.  

O roteiro, assinado por Espen Lauritzen von Ibenfeldt e Erlend Loe, retorna à cidade de Rjukan, no coração da Noruega, onde o jovem Sønsteby enfrenta os dilemas da adolescência em um cenário idílico e gelado. A tranquilidade, porém, é interrompida pelos primeiros sinais da ameaça nazista. Em 1937, Hitler ainda era um vulto sombrio na política europeia, mas, com o tempo, seu ideário distorcido começava a moldar uma era de violência e intolerância. Quando, em 9 de abril de 1940, a ocupação alemã chegou à Noruega, Sønsteby, então aspirante a contador, foi forçado a abandonar a normalidade para se tornar um dos maiores símbolos da resistência norueguesa.  

Andersen escolhe uma abordagem não linear, costurando tempos distintos a partir de uma palestra informal do protagonista em sua antiga escola. A estrutura narrativa permite que o filme oscile entre as memórias de Sønsteby e os eventos que definiram sua trajetória. A transição é fluida, enriquecida por cenas meticulosamente detalhadas que capturam tanto a beleza dos fiordes quanto o horror da guerra.  

Erik Hivju e Sjur Vatne Brean dividem a interpretação do protagonista, representando respectivamente o Sønsteby maduro e o jovem idealista. Brean destaca-se ao transmitir a força e o conflito interno de um homem que, apesar de suas hesitações, abandona o conforto de um emprego burocrático para integrar a guerrilha paramilitar da Resistência. A tensão é palpável em cada escolha do personagem, retratando com precisão os dilemas éticos que moldaram sua jornada.  

Entre os conflitos internos do protagonista, o filme explora o episódio da traição de Erling Solheim, amigo de Sønsteby, que o vendeu por duzentas mil coroas. A sobrinha-bisneta de Solheim, uma personagem fictícia introduzida na trama, serve como catalisador para confrontos emocionais que ultrapassam gerações.  

“Número 24” alcança uma nota poética que ressoa além da tela. Brean e Jakob Maanum Trulsen entregam uma performance comovente, trazendo à tona a dolorosa verdade de que certas gavetas, por mais bem guardadas, não podem silenciar os gritos de seu interior. A memória, viva e insurgente, exige ser ouvida, relembrando que o passado não se apaga — apenas espera o momento certo para emergir. 

Filme: Número
Diretor: John Andreas Andersen
Ano: 2025
Gênero: Ação/Biografia/Drama
Avaliaçao: 10/10 1 1
★★★★★★★★★★