Robert McCall reaparece longe das metrópoles movimentadas, refugiado em uma pitoresca vila siciliana, onde tenta encontrar paz após uma vida dedicada a consertar as falhas do mundo. Contudo, o início sereno de “O Protetor: Capítulo Final” logo é subvertido por uma sequência de tirar o fôlego, reafirmando o estilo visceral de Antoine Fuqua. O terceiro capítulo da saga traz McCall enfrentando uma nova batalha: desmantelar um esquema brutal de exploração de imigrantes, enquanto tenta reconciliar seu papel de justiceiro com a possibilidade de uma existência mais tranquila.
Denzel Washington entrega uma performance magistral, personificando um homem consumido por um senso de justiça inabalável, mas cheio de nuances que o tornam humano. Seu McCall, agora mais reflexivo, pondera as consequências de seus atos, embora sua determinação em eliminar a “escória” permaneça inabalável. É nessa ambivalência que o personagem encontra profundidade, conduzindo o espectador por um enredo que mistura ação desenfreada com momentos de introspecção.
Fuqua posiciona a narrativa no sul da Itália, um cenário que transborda charme e contrasta com a violência dos conflitos que se desenrolam. Ao mesmo tempo, questões sociais ganham relevância, como a precariedade enfrentada por refugiados, representada pelo jovem Khalid, interpretado com sensibilidade por Zakaria Hamza. Essa relação entre McCall e Khalid adiciona camadas emocionais à trama, enquanto o protagonista busca proteger não apenas a vila, mas também a dignidade de seus habitantes.
O roteiro de Richard Wenk e sua equipe, embora estruturado em fórmulas familiares, mantém o público engajado com reviravoltas ágeis e uma narrativa eficiente. A interação entre McCall e Emma Collins, vivida por Dakota Fanning, serve como um elo emocional que resgata elementos dos filmes anteriores. Sua presença é um lembrete de que, apesar da escuridão, ainda há espaço para vínculos genuínos e momentos de leveza.
À medida que a trama avança, o filme mergulha em uma investigação envolvendo a CIA em Nápoles e uma droga perigosa que ameaça a Europa. Embora previsível em alguns pontos, a direção de Fuqua transforma cada cena em um espetáculo visual e emocional, mantendo o ritmo frenético e a tensão crescente.
Por trás da violência coreografada e do apelo estilizado, “O Protetor: Capítulo Final” oferece uma reflexão sobre os limites da justiça. McCall é a personificação de um paradoxo: um homem que acredita na possibilidade de um mundo mais justo, mas que recorre aos meios mais extremos para alcançá-lo. Essa dualidade ecoa em cada golpe e decisão, questionando se a justiça pode realmente ser conquistada sem se dobrar às mesmas forças que busca combater.
Enquanto o final se desenrola, McCall encontra algo que parecia inalcançável: um vislumbre de paz. Contudo, “Capítulo Final” não é apenas sobre encerrar uma história; é sobre o impacto duradouro de escolhas feitas em nome do que é certo. Fuqua e Washington encerram essa saga de forma grandiosa, entregando uma obra que, mesmo com suas fórmulas conhecidas, ressoa como um testemunho da complexidade da natureza humana.