Nas representações clássicas do folclore escandinavo, as figuras dos trolls, imortalizadas nas pinturas do norueguês Erik Werenskiold, são descritas como criaturas de proporções colossais, desajeitadas e com feições pouco convencionais — rostos peludos, narizes exagerados e curvaturas corpóreas marcantes. Embora pareçam inofensivas e até um tanto ridículas, as lendas atribuem a essas criaturas a capacidade de se metamorfosear, alterando tamanho, forma e até textura para se fundirem ao ambiente natural. Ainda que muitos considerem esses relatos apenas frutos de imaginação, não faltam histórias de quem acredite nesses gigantes mágicos. O cinema, fiel à sua natureza de revisitar e reimaginar mitologias, frequentemente utiliza essas narrativas para criar experiências visuais que renovam e perpetuam tradições culturais.
Em “O Troll da Montanha”, dirigido por Roar Uthaug, conhecido por “Tomb Raider: A Origem”, a Noruega oferece o cenário para uma superprodução repleta de efeitos especiais e tecnologia de ponta. Por meio da CGI, surge um troll monumental, com mais de 50 metros de altura, capaz de causar destruições massivas, como as que vemos em icônicos edifícios de Oslo. A narrativa se desenrola sem explicar imediatamente as razões que levam a criatura a despertar de sua longa hibernação, mas aponta para um massacre histórico promovido por Olavo, o Santo, que eliminou sua espécie e transformou seu lar em um sítio cristão. Uma carga de simbolismo emerge na relação entre o antigo e o moderno, o natural e o humano.
Com o ressurgimento do último troll, sua jornada de retorno ao lar se torna uma aventura de destruição e desafio às autoridades, que recorrem à ajuda de Norma Tideman, arqueóloga interpretada por Ine Marie Wilmann. Norma é uma pesquisadora com um passado marcado pela conexão com as lendas dos trolls, devido à influência de seu pai, um excîntrico escritor. Sua missão envolve não apenas entender a criatura, mas também buscar formas de mitigá-la sem ignorar as mensagens que sua presença carrega. O embate não é apenas entre humanos e troll, mas também entre o respeito ao passado e a pressa pela dominação territorial.
Com paisagens imponentes das montanhas norueguesas e sequências que exploram a escala e a fisicalidade da criatura, o filme combina aventura com reflexão. Apesar de não aprofundar os aspectos emocionais ou motivacionais do troll, oferece um vislumbre da relação conturbada entre humanidade e natureza. A crítica à destruição ambiental se mescla à grandiosidade dos elementos visuais, mantendo a produção em um nível tecnicamente robusto. “O Troll da Montanha” equilibra bem o entretenimento e a mensagem, propondo uma experiência que não apenas captura o imaginário, mas também provoca uma reflexão sobre os efeitos da presença humana no mundo.
★★★★★★★★★★