A disposição idealista da juventude frequentemente fascina, mesmo quando revela uma ingenuidade desarmante. Essa crença de que conflitos podem ser resolvidos com consenso, ainda que muitas questões desafiem a lógica ou se prolonguem indefinidamente, reflete intrepidez, vaidade e imaturidade. Há, também, traços de soberba e impulsividade, combinados a uma certa desesperança que os leva a enxergar o mundo por um prisma que mascara suas imperfeições. No Brasil, 1.622.732 jovens entre dezesseis e dezessete anos integram o corpo eleitoral, um número expressivo, capaz de decidir disputas acirradas. Embora inaptos para conduzir automóveis, possuem o poder de influenciar profundamente o rumo político do país, seja em direção a avanços genuínos, seja rumo a promessas ousadas, mas historicamente associadas a retrocessos e estagnação.
Na Europa, o espectro do totalitarismo de extrema-direita reaparece periodicamente, alimentado pela negligência em reconhecer os perigos do autoritarismo, independentemente da roupagem ideológica que assuma. Esse tipo de manipulação afeta especialmente os jovens, cujas estruturas cognitivas e emocionais ainda estão em formação, tornando-os mais vulneráveis a apelos passionais. O filme alemão “Je Suis Karl”, lançado em 2021, aborda esse tema delicado, revelando os perigos de resgatar práticas ultrapassadas que já resultaram em atrocidades amplamente documentadas. Christian Schwochow se insere na tradição de cineastas como Hans Weingartner, Dennis Gansel e Julia Von Heinz, que exploraram, em obras anteriores, os atrativos do radicalismo entre jovens e as consequências desastrosas de sua adesão a ideias autoritárias.
O filme entrega atuações impactantes, como a de Luna Wedler no papel de Maxi, uma jovem que perde mãe e irmãos em um atentado a bomba em Berlim. A partir dessa tragédia, a narrativa expõe como a intolerância pode surgir em espaços íntimos e familiares, simbolizada pela metáfora de um pássaro negro caído após o ataque. Maxi, que se envolve com o movimento Re/Generation Europe — uma recriação fictícia de ideologias extremistas, inspirada em grupos reais como o Movimento Identitário —, encontra em Karl (Jannis Niewöhner) um mentor carismático, capaz de distorcer sua busca por justiça para objetivos questionáveis. Schwochow articula elementos históricos e contemporâneos, como a menção à hostilidade de Hitler à França durante a Segunda Guerra Mundial, para ilustrar a persistência de ideias despóticas, mesmo disfarçadas sob retórica moderna.
Apesar de alguns problemas narrativos, como explicações convenientes para os conflitos internos da protagonista, o filme cumpre seu propósito ao abordar as raízes do autoritarismo e o impacto de visões liberticidas que se travestem de defesa da liberdade. Schwochow oferece uma reflexão valiosa sobre o papel do diálogo e da consciência crítica como antídotos contra o fascínio por soluções simplistas e perigosas.
★★★★★★★★★★