Entre as reflexões provocadas pelo filme “Comer, Rezar, Amar”, destaca-se uma verdade quase universal: o que mais desejamos muitas vezes nos escapa quando tentamos alcançá-lo de forma desesperada. Inspirado no best-seller de Elizabeth Gilbert, que permaneceu por impressionantes 180 semanas na lista do The New York Times, o longa dirigido por Ryan Murphy propõe uma jornada de autodescoberta, embalada por um elenco estrelado e um orçamento generoso. Julia Roberts assume o papel de Liz, uma mulher em crise que, insatisfeita com a vida aparentemente perfeita em Nova York, decide buscar respostas em uma odisseia espiritual e emocional por Bali, Índia e Itália.
Desde o início, o filme destaca as contradições da protagonista. Liz é inquieta, determinada e ao mesmo tempo vulnerável, buscando um equilíbrio que parece sempre escapar de suas mãos. A jornada começa em Bali, onde ela conhece Ketut Liyer, um guru local que lhe oferece uma série de conselhos envoltos em simplicidade. Uma dessas lições é simbolizada por uma gravura de uma deusa hindu equilibrando-se em quatro pernas, uma metáfora que se revelará essencial nos momentos finais da narrativa.
Atravessando os 40 anos, Liz enfrenta uma crise de meia-idade marcada pela incapacidade de sustentar relacionamentos significativos, mesmo com parceiros dispostos a tudo para agradá-la. Essa desconexão emocional torna-se ainda mais evidente nas cenas com Stephen, interpretado por Billy Crudup, um marido dedicado, mas incapaz de preencher o vazio existencial de Liz. Em um flashback memorável, eles dançam em uma festa de aniversário, simbolizando uma última tentativa de salvar um casamento condenado ao fracasso. A sequência é carregada de melancolia e lirismo, refletindo o tipo de narrativa emocional que o filme busca entregar.
Ao longo do roteiro coescrito por Murphy e Jennifer Salt, a trama equilibra momentos de introspecção com um tom levemente cínico, forçando o espectador a alternar entre a empatia e a frustração com a protagonista. A performance magnética de Julia Roberts humaniza Liz, tornando-a mais acessível e tridimensional. Sua transição de uma mulher aparentemente egoísta para uma figura em busca de redenção pessoal é o que mantém o interesse até o desfecho.
Na Itália, Liz descobre o prazer simples da gastronomia, mergulhando na culinária local e nos excessos que a acompanham. O ganho de peso, algo que poderia ser tratado de forma banal, é retratado como um ato de liberdade, um pequeno triunfo contra as imposições sociais. Já na Índia, ela encontra Richard (vivido por Richard Jenkins), um texano espirituoso cujo papel vai além de um simples amigo. Ele é o contraponto emocional de Liz, oferecendo-lhe a coragem para enfrentar seus medos mais profundos e seguir em frente.
O retorno a Bali marca o clímax emocional do filme. Liz reencontra Ketut, agora incapaz de reconhecê-la — um toque de humor que quebra a previsibilidade da narrativa. E então surge Felipe, interpretado por Javier Bardem, cuja presença simboliza a possibilidade de um amor renovado. Embora o desfecho seja previsível, a construção dos personagens e a atuação de Bardem garantem um fechamento satisfatório.
“Comer, Rezar, Amar” não se limita a ser um conto de autodescoberta com cenários deslumbrantes; é também uma exploração das complexidades humanas e das buscas intermináveis por sentido. Se, como sugere Ketut, o desequilíbrio é essencial para encontrar o equilíbrio, Liz nos mostra que a jornada é tão importante quanto o destino final.
★★★★★★★★★★