A abordagem de Hollywood à temática do terror se tornou um território fértil para questionamentos e confrontos criativos. A dúvida persiste: deve-se priorizar uma análise rigorosa das origens e desdobramentos dos conflitos ou, como em “O Reino”, assumir um posicionamento incisivo que demarque lados, simplificando as complexidades em mocinhos e vilões? A narrativa mergulha em temas candentes como a defesa de democracias contra a barbárie, explorando os limites da retórica sobre o direito à autodefesa.
Os atentados de 11 de setembro de 2001, liderados pela Al-Qaeda sob o comando de Osama bin Laden, tornaram-se um divisor de águas na trajetória de Peter Berg. Ainda que suas intenções artísticas sejam vistas como respostas sinceras aos eventos trágicos, pairam especulações sobre o apelo comercial desse tipo de produção — uma crítica que, embora desconfortável, não é desprovida de fundamentos. A máxima de que o espetáculo deve continuar encontra eco no impacto desses filmes no imaginário popular.
Embora a trama de “O Reino” não faça referência direta ao 11 de Setembro, sua construção narrativa seria incompleta sem evocar elementos como o terrorismo, as disputas no Oriente Médio, as teocracias e o papel controverso das forças americanas. O filme traça uma metáfora pungente sobre a pulsão destrutiva enraizada em interpretações radicais do islamismo, uma distorção que escapa ao controle e abala sociedades inteiras. Na introdução, o diretor articula a convergência de história e política, destacando a fundação da Arábia Saudita em 1932 como marco inicial de um território marcado por conflitos religiosos e dependência econômica global pelo petróleo.
O roteiro, assinado por Matthew Michael Carnahan, revisita eventos-chave, como os ataques da Al-Qaeda a bases americanas em Riade, expondo as dinâmicas de poder que sustentam o ciclo de violência. A atuação de Jamie Foxx, despida do charme de seu papel em “Ray”, capta o dilema moral de seu personagem, Ronald Fleury, engolido por um espírito de revanche inevitável. A tentativa de Peter Berg de humanizar o conflito, sobretudo por meio de Ali Suliman como o sargento Haytham, aponta para a ideia de que, na guerra, ninguém sai ileso.
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