Seja pela amplitude do tema, seja pelo alcance mercadológico, os filmes de guerra têm lugar garantido no cinema, por preservarem o caráter belicoso dessas narrativas enquanto diretores esmeram-se por contextualizar os eventos apresentados, quase sempre espinhosos, intrincados, que dependem da justa construção dramática para que façam sentido e, por óbvio, o espectador os absorva. Diferentes visões de um fato histórico, expostas e mesmo defendidas por diretores que convivem naquele universo por meses a fio, vêm à tona em produções muito bem-cuidadas, que põem por terra verdades monolíticas sobre dado assunto.
O cotidiano dos soldados, a exaustão por causa das batalhas que se sucedem umas às outras por anos, a degradação moral de um cenário eivado de violência em seu estado bruto: boa parte do que acontece nos campos de batalha vêm à tona em “De Volta para o Inferno”, uma crônica sobre o pior horror da humanidade, tão nefasto em sua perversão que pega em cheio uma família feliz. Especialista nesses enredos, Ted Kotcheff volta a um dos acontecimentos mais traumáticos da história moderna dos Estados Unidos a fim de obter sequências de explosão, choro e caos, ancoradas por um velho soldado em busca do filho. E então surpresas se fazem anunciar.
Sagas familiares começam pelos motivos mais excepcionais, mas sempre têm um propósito em comum: frisar a necessidade de se manter os vínculos com o que somos desde antes que soubéssemos o que nos prepararia o mundo. Existe quem se perca pelos descaminhos que se vendem como um atalho para a felicidade, do mesmo modo que há os que não se conformam com o que convencionou-se chamar destino, e dessa luta emergem as tramas de sofrimento e resistência de que é feita a própria humanidade e que lhe conferem sentido. O dia 7 de março de 1973 marca uma reviravolta na vida do coronel Jason Rhodes, um veterano da Guerra da Coreia (1950-1953) que crê no poder das armas para conquistar-se a paz.
Nesse dia, seu filho, Frank, é oficializado como um dos 2.500 militares desaparecidos durante a Guerra do Vietnã (1955-1975), que se estenderia por mais dois anos, e ele precisa ver com os próprios olhos a paisagem devastada por bombas e tanques para talvez habituar-se a ideia de que Frank vai mesmo permanecer, morto ou vivo, em algum buraco recôndito do Sudeste Asiático. É claro que ele não está disposto a admitir essa grande tristeza no outono de sua vida, e ao saber que há uma colônia de forçados americanos no Laos, suas esperanças se renovam. A engrenagem fundamental do roteiro de Joe Gayton e Wings Hauser é manter a austera figura de Gene Hackman no alvo, ainda que a ele juntem-se os moços Kevin Scott e Marinheiro, de Patrick Swayze (1952-2009) e Randall ‘Tex’ Cobb. Mas “De Volta para o Inferno” é, definitivamente, um artigo para iniciados.
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