Ser um criminoso impassível, gélido, que faz seu trabalho sem se deixar envolver com os dramas e as tragédias de quem quer que seja não deve ser fácil. O protagonista de “Pacto de Redenção” passaria toda a vida assim, até que sofre o grande baque que resvala justamente em seu ponto fraco, o orgulho profissional. Em seu segundo trabalho como diretor, Michael Keaton dá vida a John Walker Knox, um veterano da Guerra do Golfo (1990-1991) promovido a professor universitário com mestrado em história e literatura inglesa (!) que se torna um assassino de aluguel temido e internacionalmente requerido, até ser fuzilado por uma descoberta nada auspiciosa. Quinze anos depois de “Má Companhia” (2008), seu debute por trás das câmeras, Keaton é capaz de despertar o interesse do público por esse homem plural, diverso, graças a seu carisma e ao roteiro de Gregory Poirier, que encadeia situações dramáticas a cenas coroadas pelo suspense de uma investigação que avança contra o suspeito de outra morte violenta, o leito por onde corre a história.
Na introdução, Knox acerta o que parece seu último trabalho com o parceiro, Thomas Muncie, de Ray McKinnon, já sabendo ser uma vítima da doença de Creutzfeldt-Jakob. Enquanto não definha de vez, recebe Annie, a prostituta vivida por Joanna Kulig, todas as quintas-feiras, e quando chega o dia de executar um chefão latino do tráfico na periferia de Los Angeles, um lapso de memória o faz esquecer que Muncie o acompanhava na tarefa. O diretor vale-se desse primeiro conflito para encaminhar a trama para a segunda fase, durante a qual Knox tem a chance de remissão mencionada no título. Miles, o filho que não vê há séculos, bate a sua porta, sujo de sangue e clamando por ajuda. Ele está voltando da casa do homem que estuprou e engravidou a filha adolescente, e agora precisa que o pai, bastante experiente no assunto, desapareça com o cadáver. É aí que Knox decide ficar.
Enquanto Knox e Miles acertam suas contas, corre a investigação do crime do pai, a cargo da detetive Emily Ikari, de Suzy Nakamura, que não demora a concluir que os dois eventos estão de algum modo interligados. O trunfo de “Pacto de Redenção” é costurar os dois segmentos de modo a dar ênfase a essa intenção de mudança de vida do personagem central, que se empenha para assumir a culpa pelo assassinato cometido por Miles, que logo reconhece a boa vontade de Knox e ensaia amá-lo de novo. James Marsden captura o olhar da audiência em vários lances, minimizando um ou outro desacerto semântico e energizando Keaton, para além da eterna lembrança daquele justiceiro mascarado, para uma próxima aventura como realizador. O cinema agradece.
★★★★★★★★★★