Sidney Lumet é um nome indispensável na história do cinema. Com uma carreira marcada por títulos icônicos como “12 Homens e uma Sentença”, “Rede de Intrigas”, “Serpico” e “Um Dia de Cão”, ele se tornou sinônimo de excelência narrativa e direção impecável. Ao longo de sua trajetória, acumulou cinco indicações ao Oscar de melhor direção, sendo finalmente reconhecido em 2005 com o prêmio honorário da Academia. Seu capítulo final na sétima arte foi o thriller “Antes que o Diabo Saiba que Você Está Morto”, lançado em 2007. O filme, com roteiro de Kelly Masterson, representou sua estreia e despedida no uso de câmeras digitais, marcando uma transição técnica e emocional em sua obra.
Muito antes das comédias trágicas dos irmãos Coen, Lumet já explorava histórias onde o caos humano domina. Em “Antes que o Diabo Saiba que Você Está Morto”, acompanhamos Andy (Philip Seymour Hoffman) e Hank Hanson (Ethan Hawke), irmãos com vidas fragmentadas, que decidem roubar a joalheria da família. Andy, frustrado e endividado, elabora o plano, mas delega a execução a Hank, que, pressionado por sua própria crise financeira, aceita. Para garantir o sucesso do roubo, Hank contrata um cúmplice, mas o que deveria ser um crime simples desmorona em tragédia quando a mãe dos irmãos, Nanette (Rosemary Harris), é a vítima inesperada. Com sua morte cerebral confirmada, os Hanson se veem em um turbilhão de segredos e tensões, expondo feridas familiares e redefinindo suas relações.
O longa avança em um ritmo perturbador, guiado pela câmera instável que aumenta a sensação de intimidade e urgência. Lumet constrói um cenário onde o realismo é visceral, as atuações de Seymour Hoffman e Hawke emocionam, e os momentos de violência emergem como choques inescapáveis. A tensão é amplificada pela iluminação sombria, cores saturadas e uma trilha sonora que dialoga com o suspense crescente. Não há espaço para respiro; a narrativa é um mergulho em conflitos profundos e em dores nunca resolvidas, com diálogos que ecoam amarguras e arrependimentos.
A estrutura do filme desafia convenções, intercalando flashbacks que revisitam o mesmo evento sob múltiplas perspectivas. Esse recurso enriquece a trama, oferecendo um mosaico de significados e ampliando a compreensão do espectador. No crepúsculo de sua carreira, Lumet entregou uma obra que transcende o gênero, equilibrando complexidade emocional e domínio técnico. Esse thriller é, sem dúvida, um legado à altura de sua genialidade, reafirmando sua capacidade de explorar o íntimo do humano e suas tragédias.
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