A belíssima obra-prima de Steven Spielberg indicada a 298 prêmios, incluindo 7 Oscars, no Prime Video Divulgação / UPI

A belíssima obra-prima de Steven Spielberg indicada a 298 prêmios, incluindo 7 Oscars, no Prime Video

O talento irrefutável de Steven Spielberg encontra em “Os Fabelmans” um espaço de expressão raro e profundamente pessoal, marcando uma das obras mais autorais do cineasta. Em uma narrativa que pulsa com questões como busca por identidade, complexidade familiar e o poder transformador da arte, Spielberg oferece uma janela singular para suas próprias motivações criativas. Após décadas insinuando traços autobiográficos em filmes como “E.T. O Extraterrestre” (1982) e “A Lista de Schindler” (1993), ele finalmente articula, de forma direta e envolvente, o impacto de sua própria história na construção de seu legado cinematográfico.

No centro da trama, um casal judeu e seus filhos convivem com aspirações e temperamentos distintos, mas sem ceder às rupturas clichês de dramas familiares. Mitzi, vivida por Michelle Williams, é uma pianista talentosa que abandonou sua carreira promissora para se dedicar à família, mas cuja paixão pela arte permanece latente. Burt, interpretado por Paul Dano, é um cientista prático que encara a arte como mero passatempo. Entre esses dois polos, Sammy Fabelman desponta como um jovem dividido entre a racionalidade do pai e a efervescência criativa da mãe.

A jornada de Sammy é desencadeada por uma ida ao cinema para assistir ao clássico “O Maior Espetáculo da Terra” (1952), de Cecil B. DeMille. A experiência desperta nele um fascínio incontrolável por narrativas visuais. Uma cena em particular — o desastre de trem — o inspira a recriar o evento com seus brinquedos, provocando tanto a admiração de Mitzi quanto o desconforto de Burt. Essa cena simboliza não apenas o nascimento de um cineasta, mas também o embate entre paixão e pragmatismo que permeia sua vida.

Ao lado do roteirista Tony Kushner, Spielberg constrói uma narrativa que mistura memórias pessoais com elementos ficcionais, explorando as nuances da juventude de Sammy com riqueza de detalhes. Mateo Zoryon Francis-DeFord entrega uma performance cativante como o jovem Sammy, enquanto Gabriel LaBelle assume o papel na fase adulta, interpretando com igual intensidade as lutas internas e o amadurecimento do protagonista.

Mais do que uma biografia disfarçada, “Os Fabelmans” é uma reflexão sobre o próprio ofício de contar histórias. Spielberg, em sua maestria, não se limita a um olhar nostálgico, mas também propõe uma crítica sutil às complexidades de transformar memórias em arte. Ele expõe com habilidade como o cinema pode ser tanto uma forma de fuga quanto uma ferramenta de compreensão do mundo.

O filme também explora o “faro” de Spielberg para entender o público e moldar narrativas que transcendem o comum. Esse instinto, aliado a uma sensibilidade única para capturar o zeitgeist, transformou enredos inusitados em clássicos atemporais. Em “Os Fabelmans”, essa habilidade é colocada à prova de forma sublime, com Spielberg equilibrando delicadamente o apelo emocional e a profundidade intelectual.

“Os Fabelmans” é mais do que uma homenagem à sétima arte; é uma celebração do ato de criar, uma meditação sobre como as histórias que contamos moldam quem somos. Spielberg reafirma seu status como um dos grandes mestres do cinema, entregando uma obra que emociona, inspira e provoca reflexão em igual medida. Seu gênio reside não apenas em narrar, mas em transformar a própria vida em uma fábula universal.

Filme: The Fabelman
Diretor: Steven Spielberg
Ano: 2022
Gênero: Comédia/Drama
Avaliaçao: 9/10 1 1
★★★★★★★★★