A primeira impressão do terno remete à simplicidade: paletó e calça, quando na realidade, é um conjunto de três peças, incluindo o colete. Combinando algodão, linho, mohair e seda, o traje masculino alcançou o auge da sofisticação por meio de uma produção artesanal meticulosa. Era um processo metódico, envolvendo mais de duzentos passos, onde medir, cortar, moldar e unir as partes eram etapas indispensáveis, exigindo mãos habilidosas e olhar aguçado.
Nas cenas iniciais de “O Alfaiate”, percebe-se a sofisticação do homem que personifica elegância, mas carrega dois segredos marcantes: um do passado londrino e outro, posterior à sua forçada mudança para Chicago, logo após a Segunda Guerra Mundial. Graham Moore, conhecido pelo roteiro de “O Jogo da Imitação” (2014), retorna agora como diretor, em parceria com Johnathan McClain, para entregar um suspense refinado. Com 105 minutos de tensão cuidadosamente construída, cada reviravolta é estrategicamente colocada, evitando excessos e conduzindo a narrativa de forma cirúrgica.
Produções ambientadas no contexto da Segunda Guerra se consolidaram como um gênero à parte, explorando dramas humanos que emergem das sombras da história. Personagens complexos, em contextos extremos, desafiam a neutralidade do espectador, ora inspirando, ora revoltando, em meio a cenários de coragem ou vilania. Mesmo abordando temas recorrentes, como o regime nazista, o filme traz perspectivas inéditas que reafirmam a relevância desse período histórico e a necessidade de revisitá-lo.
Leonard Burling, o alfaiate do título, recusa ser chamado de costureiro. Interpretado por Mark Rylance, que ecoa traços de sua atuação em “Ponte dos Espiões” (2015), o personagem é um mestre exilado de Savile Row, que viu a arte da alfaiataria sucumbir à simplicidade do jeans e à brutalidade econômica da guerra. Essa decadência o levou a Chicago, onde sua relação com a Outfit, uma máfia irlandesa liderada por Roy Boyle (Simon Russell Beale), assume contornos inesperados.
Burling, apelidado de “O Inglês” pelos mafiosos com desprezo, parece enredado nos esquemas dos Boyle. Contudo, sua posição na teia criminosa não é tão óbvia quanto aparenta. O grande trunfo do filme está no desfecho, quando a vingança do alfaiate se revela tão meticulosamente planejada quanto a confecção de um traje impecável. Leonard Burling pode ser um artesão dos tecidos, mas demonstra que, por trás das linhas e agulhas, existe uma mente estratégica e letal.
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