Lançado em 2019, “Estrada Sem Lei” finalmente emergiu após décadas de planejamento e expectativas. Dirigido por John Lee Hancock e roteirizado por John Fusco, o longa estrelado por Kevin Costner e Woody Harrelson trouxe para a tela uma perspectiva única sobre a história de Bonnie e Clyde. Contudo, essa visão não surgiu de maneira imediata: o projeto remonta aos lendários Robert Redford e Paul Newman, que almejavam reviver sua parceria icônica de “Butch Cassidy and the Sundance Kid” para contar a história dos policiais que capturaram o infame casal. A morte de Newman, porém, levou Redford a abandonar o projeto, adiando sua realização por anos.
No roteiro original, Redford e Newman estavam cotados para interpretar Frank Hamer e Maney Gault, os detetives responsáveis por encerrar a onda de crimes que celebrizou Bonnie e Clyde. Na década de 1930, a dupla criminosa desafiou as autoridades, tornando-se símbolos de uma rebeldia idealizada pela mídia e pela população. Diferentemente de abordagens que romantizam seus atos, “Estrada Sem Lei” desconstrói esse mito, oferecendo uma visão crua e realista do trabalho policial que desmantelou sua trajetória.
O filme sofreu vários atrasos até sua conclusão. Kevin Costner, sondado para interpretar Hamer em 2009, recusou o papel, alegando que ainda não tinha a maturidade necessária para viver o experiente policial. Liam Neeson chegou a ser anunciado como protagonista, mas abandonou o projeto antes das filmagens. Foi apenas em 2019 que Costner assumiu o desafio, entregando uma performance ancorada em uma preparação intensa que incluiu um ganho de peso significativo para aproximar-se fisicamente de Hamer.
A trama se concentra na parceria entre Hamer e Gault, ambos policiais veteranos que saem da aposentadoria para liderar a perseguição à dupla criminosa. Bonnie e Clyde, conhecidos por uma série de assaltos violentos e assassinatos que incluíram policiais e civis, foram exaltados como heróis populares, especialmente em Dallas, onde o desespero econômico alimentava simpatias pela criminalidade. O filme, no entanto, não cede ao fascínio popular: Bonnie e Clyde são retratados como assassinos implacáveis, cuja história termina tragicamente em 23 de maio de 1934, durante uma emboscada cuidadosamente planejada.
Além de narrar a queda do casal, o longa examina os desafios enfrentados pelos detetives em um cenário de mudanças tecnológicas e institucionais. Enquanto Hamer e Gault utilizavam métodos tradicionais, o FBI surgia como uma força moderna e rival, trazendo novas tensões à investigação. Ma Ferguson, interpretada por Kathy Bates, acrescenta uma camada de complexidade, representando os interesses políticos e institucionais que permeavam a caçada.
Combinando elementos de thriller policial e faroeste clássico, “Estrada Sem Lei” retrata a investigação como um esforço meticuloso, marcado por paciência e resistência. A direção de Hancock equilibra momentos de tensão crescente com sutis toques de humor, criando um ritmo envolvente. As atuações de Costner e Harrelson conferem profundidade emocional aos personagens, refletindo a exaustão, os dilemas éticos e a camaradagem que permeiam sua jornada.
Ao desconstruir a aura romântica que envolve Bonnie e Clyde, o filme oferece uma experiência que vai além do entretenimento, convidando o público a refletir sobre o impacto da criminalidade e a complexidade do sistema de justiça. “Estrada Sem Lei” não apenas reconta uma história conhecida, mas a recontextualiza, destacando a dedicação e os sacrifícios daqueles que se dedicaram a trazer ordem a um mundo em crise.
★★★★★★★★★★