Mulheres frequentemente enfrentam a necessidade de desafiar qualquer visão previsível que possam ter delas, muitas vezes adotando comportamentos que expõem a fragilidade de padrões masculinos, tornando-os quase infantis. A narrativa de “Olho por Olho” entrelaça referências que vão da psicanálise a Shakespeare, passando pelas tragédias gregas e pelas telenovelas brasileiras, estas últimas notórias por integrar complexidades e, por vezes, produzir resultados geniais, independentemente do julgamento cultural.
Histórias que exploram destino, livre-arbítrio e a perplexidade humana diante de eventos inevitáveis ressoam amplamente com o público. Em “Olho por Olho”, uma mulher, ao telefone com a filha, ouve os últimos gritos dela, evento que transforma sua vida em um confronto direto com a força imprevisível do destino. A adaptação de John Schlesinger para o romance de Erika Holzer disseca os dilemas morais de uma mãe em busca de justiça, expondo como a união de pulsões de vida e morte, na ótica freudiana, molda as ações humanas.
O fracasso, veneno para a alma, leva alguns à apatia, mas Karen McCann, protagonista de “Olho por Olho”, não cede. Após o brutal assassinato de sua filha Julie, e diante da impunidade de Robert Doob, Karen decide agir. Sem respaldo das autoridades, recorre a métodos próprios, com a ajuda de um detetive experiente, mas logo percebe que o sistema e seus limites não serão suficientes. O roteiro de Jaffa e Silver avança em ritmo intenso, com atuações marcantes de Sally Field e Joe Mantegna, enquanto Schlesinger investiga a psicologia do antagonista.
Robert Doob é a personificação da ameaça, movendo-se impunemente como entregador em Los Angeles enquanto persegue suas vítimas. A família de Karen, incluindo sua filha mais nova, Megan, corre risco iminente. A tensão cresce com a atuação perturbadora de Kiefer Sutherland, que transforma Doob em mais que um vilão; ele é um símbolo do perigo que milícias e outros grupos justificam combater. Uma trama secundária revela a infiltração do FBI em uma associação suspeita de promover vingança extrajudicial, ampliando os dilemas éticos da obra.
Karen enfrenta um dilema ético ao decidir entre sua vingança e as possíveis consequências legais de seus atos em “Olho por Olho”. O final, embora marcado por uma solução inesperada e controversa, mantém a audiência envolvida. O maior valor da obra é observar como ela reflete as mudanças no cinema ao longo de quase três décadas, enquanto a sociedade permanece essencialmente a mesma.
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