A estreia de Katie Holmes como diretora em longa-metragem é marcada por “Tudo Que Tínhamos”, um drama independente baseado no romance homônimo de Annie Weatherwax, adaptado por Josh Boone e Jill Killington. Essa obra sinaliza uma transformação na trajetória profissional de Holmes, que revela uma postura artística mais confiante e independente. Longe dos papéis que a consagraram no início da carreira, a atriz e diretora demonstra um amadurecimento notável, construído por experiências anteriores em curtas-metragens que a prepararam para projetos mais ambiciosos. Após essa estreia, Holmes dirigiu ainda “Alone Together” e “Rare Objects”, solidificando sua posição atrás das câmeras.
A narrativa acompanha Ruthie Carmichael (Stefania LaVie Owen), uma adolescente de 13 anos, e sua mãe Rita (Holmes), uma mulher alcoólatra e emocionalmente instável, incapaz de oferecer estabilidade à filha. O filme insinua os traumas de Rita, desde uma infância difícil, marcada pela ausência de uma família acolhedora, até uma vida adulta repleta de relacionamentos efêmeros com homens que prometiam estabilidade, mas apenas agravavam a precariedade. A história começa com as duas fugindo de um relacionamento abusivo, levando apenas um carro antigo, alguns pertences e muita incerteza.
Em busca de uma nova vida em Boston, mãe e filha enfrentam adversidades na estrada, desde o carro quebrado até furtos em lojas para sobreviver. Um episódio marcante ocorre em uma lanchonete de beira de estrada, onde, sem condições financeiras, acabam dependendo da bondade de Marty (Richard Kind), dono do local, e sua sobrinha trans, Peter Pam (Eve Lindley). O incidente que deveria ser um golpe de azar acaba se tornando um ponto de virada, com as duas encontrando acolhimento e uma possibilidade de reconstrução na pequena cidade.
Por um tempo, a vida parece ganhar estabilidade, mas os antigos problemas de Rita voltam a ameaçar o frágil equilíbrio conquistado. Nesse cenário, a relação entre mãe e filha é posta à prova, e ambas precisam aprender sobre responsabilidade, resiliência e a força das conexões humanas. A jornada não é linear, mas revela momentos de crescimento e compreensão que transcendem as dificuldades.
O filme é um retrato sensível e cru das pessoas que vivem à margem de uma sociedade que privilegia poucos. Sem apelar para o julgamento, apresenta uma realidade dolorosa, mas verdadeira, de quem luta contra a pobreza extrema e a falta de oportunidades. Holmes oferece um olhar empático para os invisíveis do sistema, expondo as falhas de um modelo econômico que acolhe apenas uma minoria.
★★★★★★★★★★