A série mais engraçada e divertida da Netflix em 2025: você não vai conseguir parar de rir! Manuel Fiestas / Netflix

A série mais engraçada e divertida da Netflix em 2025: você não vai conseguir parar de rir!

Numa terceira temporada que conserva a leveza e a vontade de fazer o público pensar sobre o querem as mulheres (e, claro, os homens), a série espanhola “Machos Alfa” continua a escrutinar as reações e contrarreações de quatro marmanjos diante do torvelinho da metamorfoses dos costumes na pós-modernidade. Os irmãos Alberto e Laura Caballero, Daniel Deorador e Araceli Álvarez de Sotomayor, mantêm a fórmula de dez episódios curtos, nos quais o tom farsesco acaba por amenizar a gravidade dos temas. À independência feminina, um fetiche ao longo dos segmentos anteriores, com personagens seguras e mesmo desdenhosas dos representantes do sexo oposto, entre patéticos e solidários, os criadores juntam a arcaicíssima vontade de não desistir do macho, alfa, beta ou gama.

Uma reflexão bem-humorada (e lúcida) sobre as dificuldades essenciais do homem num relacionamento amoroso, a maneira de lidar com cobranças novas e velhas quanto à masculinidade, a urgência de ser bem-sucedido, no trabalho, na vida pessoal, diante do espelho e, o mais importante, sobre a cama, fantasma que persegue o macho da puberdade à missa de sétimo dia, para uns de forma mais doentia que para outros, é isso o que “Machos Alfa” propõe, sem nenhum medo de patrulhas — sem deixar a mulher de quina. 

Na cena que abre “Em desconstrução”, o episódio inicial da primeira temporada, Luis, Raúl, Santi e Pedro surgem no que parecem um AA para machistas. Agora, “Homens em evolução” apresenta Pedro deparando-se com as aflições e o regozijo da paternidade, ao passo que Luis vai digerindo o divórcio dos pais e a transição de gênero da filha, Raúl segue como um viciado em relacionamentos tóxicos e Santi tenta absorver as várias mudanças sociais que teimam em se dar a sua revelia. O quarteto, cada qual um exemplo da velha e subestimada maldição do macho, atravessa outra dezena de capítulos presenciando fenômenos como a Festa da Pessoa Especial no lugar do Dia dos Pais, uma crítica certeira à esgotadura das referências masculinas, culpa dos próprios homens em grande medida.

As boas atuações de Fernando Gil e Gorka Otxoa garantem a atenção do espectador até o último minuto, também para as subtramas ancoradas por Fele Martínez e Raúl Tejón. Os arcos femininos ganham contornos mais definidos, com Luz, a namorada de Raúl, que queria viver uma relação poligâmica bem na hora em que ele pensava em pedir-lhe em casamento, a catalisar as tão características incoerências do belo sexo; com margem para reconquistas; choques de temperamento e visão de mundo; e os incels, sujeitos que permanecem numa martirizante (e justa) abstinência sexual por se recusarem a admitir o óbvio e crescer. Kira Miró e María Hervás batem uma bola redonda com seus pares e oferecem providenciais respiros cômicos nessa guerra de nervos na qual estamos todos perdendo e ganhando.


Série: Machos Alfa – Terceira temporada 
Criação: Alberto e Laura Caballero, Daniel Deorador e Araceli Álvarez de Sotomayor 
Anos: 2022-2024
Gêneros: Comédia
Nota: 8/10

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.