Certos personagens da História, apesar de sua relevância, muitas vezes permanecem esquecidos por gerações posteriores. A escravidão, um símbolo cruel de épocas que muitos preferem relegar ao passado, ressurge como um lembrete doloroso de desumanidade, adaptando-se às conveniências dos tiranos contemporâneos. Esse pano de fundo serve como o alicerce para “Pompeia”, filme dirigido por Paul W.S. Anderson. Mais do que narrar a tragédia de uma cidade engolida pela fúria do Vesúvio em 79 d.C., a obra se constrói como um épico sobre resiliência, vingança e a luta contra a opressão.
Com roteiro assinado por Janet Scott Batchler, Lee Batchler e Michael Robert Johnson, o filme abre com uma citação sombria de Plínio, o Jovem, descrevendo o caos e a devastação daqueles dias. A narrativa mergulha em um cenário de escuridão física e espiritual, onde os celtas, subjugados pelo domínio romano, organizam uma rebelião sangrenta. No centro desse levante está Milo, um guerreiro habilidoso tanto com a espada quanto com os cavalos, cuja insurreição fracassa tragicamente. Diferente de seus companheiros, cujos corpos balançam em árvores secas ao som do tilintar metálico das armas — uma cena de um lirismo macabro que ecoa as tragédias de Eurípides, como na adaptação de “Medeia” por Lars von Trier —, Milo é poupado para ser vendido como escravo e levado à cidade que seria seu destino final: Pompeia.
Nos atos iniciais, Anderson intercala as memórias de liberdade de Milo com sua realidade de servidão, enquanto insere um romance quase ingênuo entre ele e Cássia, filha do governante de Pompeia, interpretado por Jared Harris. Emily Browning, no papel de Cássia, entrega uma performance notável, especialmente quando o vulcão entra em erupção e a narrativa se torna um conto de desesperança e sobrevivência. Contudo, a escolha de relegar a catástrofe vulcânica a um papel secundário, surgindo de forma abrupta, reduz seu impacto como peça central da trama.
Por outro lado, a força do filme reside em sua ação. A coreografia das cenas de combate na arena dos gladiadores é um destaque absoluto. A tensão atinge o ápice quando Milo e Atticus, interpretado por Adewale Akinnuoye-Agbaje, se veem forçados a lutar até a morte. Essa sequência, de uma precisão técnica e emocional rara, transforma o espaço da arena em palco para uma exploração do que realmente significa liberdade e lealdade.
Apesar de algumas limitações, “Pompeia” equilibra o épico pessoal de Milo com a grandiosidade de sua tragédia histórica. É uma obra que, ainda que não explore plenamente o potencial do desastre que a inspira, brilha em sua celebração da coragem frente à adversidade.
★★★★★★★★★★