Nem sempre o enfrentamento dos próprios desafios é proporcional à forma como os outros os percebem. Supor que para cada problema há uma solução evidente, apenas aguardando para ser descoberta, não apenas simplifica, mas também ignora a complexidade de existências que transitam entre o peso das adversidades e o desejo por dias mais leves. Em um cenário dominado por intolerância, arrogância e individualismo exacerbado, a capacidade de lidar com as camadas mais cruas da natureza humana se torna uma virtude rara e inestimável.
Contudo, o reconhecimento de nossas próprias falhas como partes essenciais do caminho para uma vida mais completa ainda é um desafio para muitos, sendo frequentemente substituído pela dureza do julgamento e pela recusa em admitir fragilidades que, ao contrário do que se pensa, são profundamente universais. Nem todos conseguem transformar imperfeições em aprendizados que conduzam à plenitude, mas quem o faz, seja por dom ou prática, merece ser reconhecido.
É nesse contexto que o diretor argentino Marcos Carnevale se destaca, oferecendo olhares sensíveis às fraquezas humanas. Com “Inseparáveis” (2016), ele apresenta a história de um milionário aprisionado pela tetraplegia e pelo isolamento, cuja vida ganha novos contornos com a chegada de um cuidador inusitado. Baseado em “Intocáveis” de Olivier Nakache e Éric Toledano, Carnevale segue fiel ao texto original, mas imprime uma dinâmica própria ao construir um filme que, mesmo permeado de clichês, cativa pela força das relações humanas.
Felipe, o protagonista vivido por Oscar Martínez, revela um homem sofisticado, mas amargurado, cuja transformação é conduzida pela interação com Tito, interpretado por Rodrigo de la Serna, que traz uma mistura de comicidade e aspereza em uma atuação tocante. O roteiro, cuidadosamente estruturado, equilibra emoção e humor, apostando na força da amizade como motor central, sem se perder em subtramas. A sintonia entre os atores e os momentos icônicos, como a cena ao som de “Bombón Asesino”, garantem um resultado que conecta e diverte, sem abrir mão de provocar reflexões.
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