Premiado em Veneza e indicado a 27 prêmios, o último filme de Sofia Coppola está no Prime Video Divulgação / A24

Premiado em Veneza e indicado a 27 prêmios, o último filme de Sofia Coppola está no Prime Video

O que pode querer uma jovem de catorze anos que desperta o interesse de um dos maiores ícones de sua época, muda-se para uma mansão suntuosa e, em pouco tempo, passa a ser alvo dos flashes globais? Priscilla Beaulieu, uma entre tantas figuras femininas moldadas pela dinâmica da fama, viveu um ciclo comum a muitas: inicialmente sem poder de escolha, depois marcada pelas próprias decisões e, por fim, presa ao desejo de quem parecia ser sua salvação.

Em “Priscilla”, cada cena traz uma tensão contida, habilmente dosada por Sofia Coppola, que explora com precisão os dilemas de suas protagonistas. Priscilla, assim como outras figuras retratadas pela diretora, é um símbolo de dualidade: aprisionada por circunstâncias e pela própria hesitação, mas, paradoxalmente, livre para romper os grilhões — algo que demorou a fazer, aceitando as lições de um destino implacável.

No início dos anos 1980, Priscilla detalhou suas memórias à jornalista Sandra Harmon, culminando na biografia “Elvis e Eu”, que causou alvoroço ao revelar as nuances de sua convivência com o Rei do Rock. Décadas depois, Coppola retoma esse terreno, desafiando a idolatria de fãs fervorosos ao dissecar uma relação marcada por altos e baixos, momentos de paixão e episódios de melancolia, com a presença constante de álcool e medicamentos. Priscilla vivia na Alemanha com os pais, onde conheceu Elvis, então sargento, dez anos mais velho. A diretora explora a inquietação da mãe diante da permissão concedida ao relacionamento, enquanto o pai surge excessivamente complacente, facilitando a transferência da adolescente para Graceland, onde sua vida jamais seria a mesma.

A trama enfatiza o tédio de Priscilla, frequentemente retratada sozinha, sem função além de esperar. Elvis, paradoxalmente, a considerava jovem demais para certas intimidades. Coppola traça os contrastes do início promissor, com momentos de afinidade entre os dois, como as visitas ao cinema e a admiração mútua, e a crescente desconexão. A diretora também insinua os bastidores da carreira de Elvis, marcada por contratos prejudiciais arquitetados pelo coronel Tom Parker, que monetizava o ídolo em detrimento de sua arte. Embora Coppola evite aprofundar-se nos problemas comerciais, Priscilla ocupa esse espaço, revisitando com desconforto memórias de decisões que afetaram ambos.

Caillee Spaeney entrega uma atuação impressionante, cobrindo a trajetória de Priscilla da adolescência à maturidade com precisão. Contudo, a narrativa deixa lacunas, como a omissão do papel dos pais após o início do relacionamento e a abordagem quase estática da protagonista diante do temperamento instável de Elvis. O abuso de substâncias, um tema central, obscurece até mesmo a relação de Priscilla com Lisa Marie. Por outro lado, a inclinação espiritual de Elvis, evidenciada por seu interesse pela Bíblia, adiciona camadas intrigantes ao enredo. Jacob Elordi, como Elvis, oferece uma interpretação sutil, distante do frenesi público associado ao cantor, destacando os tons sombrios que precederam sua morte precoce.

Filme: Priscilla
Diretor: Sofia Coppola
Ano: 2023
Gênero: Drama/Romance
Avaliaçao: 9/10 1 1
★★★★★★★★★