A produção cinematográfica francesa hoje reflete uma diversidade ampliada, movida tanto por escolhas estéticas quanto pela força avassaladora do mercado. O panorama atual revela filmes variados, mas os que mais se destacam são justamente aqueles que rompem com formalidades e não se limitam a escolas artísticas ou filosofias rígidas. Essa flexibilidade, que agrada públicos distintos, tem origem em parte no impacto da pandemia de covid-19. A partir de março de 2020, o confinamento criou uma demanda por histórias acessíveis e reconfortantes, capazes de entreter uma sociedade sedenta por alívio emocional.
O cinema voltado ao consumo imediato precisou adaptar narrativas para sobreviver à falta de grandes exibições. Dentro desse contexto, “Ad Vitam” emerge como uma resposta eficaz. Sem aspirações grandiosas, a obra de Rodolphe Lauga abraça suas limitações, entregando um entretenimento direto e consciente de sua proposta. Lauga não pretende seguir os passos de mestres como Alain Resnais ou Jean-Luc Godard, mas sua simplicidade se traduz em autenticidade. O filme se estrutura sobre uma premissa clássica: as complicações de um detetive, Franck Lazarev, interpretado por Guillaume Canet.
Lazarev, um ex-integrante do GIGN, enfrenta uma crise pessoal e profissional após sobreviver a um atentado e tentar salvar sua esposa das mãos de uma organização criminosa. A trama avança enquanto ele se depara com traições que envolvem antigos aliados, agora revelados como figuras corrompidas. O roteiro, assinado por Lauga, Canet e David Corona, equilibra momentos de ação bem-coreografados com um olhar introspectivo sobre o protagonista. Canet, conhecido por seu trabalho em comédias como “Asterix e Obelix no Reino do Meio” (2023), entrega uma performance marcante como um anti-herói que encara suas imperfeições para perseguir um propósito maior.
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