A tensão entre ciência e religião é um terreno familiar. Apesar de avanços tecnológicos serem celebrados como símbolos de progresso, o conflito entre conhecimento científico e crenças arraigadas persiste, uma verdade amplamente evidenciada durante a crise global da covid-19. Essa dualidade é explorada em “Joy”, onde Ben Taylor traça um retrato minucioso e realista da desafiadora origem da fertilização in vitro. A obra mergulha na incansável dedicação de três personagens cuja determinação mudou paradigmas científicos e sociais. Taylor, ao lado dos roteiristas Emma Gordon, Rachel Mason e Jack Thorne, revisita os anos 1960 para expor os bastidores dessa conquista científica e as transformações na vida de seus pioneiros.
Em 1968, alternativas para quem não podia gerar filhos naturalmente limitavam-se à adoção ou resignação. No laboratório de Richard Geoffrey Edwards, em Cambridge, uma equipe apostava na ousadia de romper barreiras biológicas, mas enfrentava obstáculos financeiros e sociais. Edwards procurou o obstetra Patrick Steptoe, que compartilhava sua visão e também seus desafios. Sob a direção de Taylor, o enredo conecta o rigor de James Norton e Bill Nighy com a sensibilidade de Jean Marian Purdy, a enfermeira e embriologista cuja presença acrescenta profundidade emocional ao filme. Purdy, enfrentando o desprezo da igreja e a rejeição da própria família, torna-se o elo humano em uma narrativa de luta e transformação.
A trama equilibra técnica e emoção, culminando em momentos marcantes como o confronto de Edwards com James Watson em um debate televisivo. Taylor intensifica o drama no segundo ato, enquanto o peso das conquistas científicas colide com valores tradicionais. Em 25 de julho de 1978, o nascimento de Louise Joy Brown, a primeira bebê de proveta, simbolizou o triunfo de uma visão outrora desacreditada. Desde então, mais de 12 milhões de vidas foram geradas com o auxílio da fertilização in vitro, redefinindo os limites do possível e reafirmando a capacidade da ciência de transformar sonhos em realidades palpáveis.
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