Uma das comédias românticas mais amadas dos século 21, vista por 130 milhões desde seu lançamento, na Netflix Divulgação / Paramount Pictures

Uma das comédias românticas mais amadas dos século 21, vista por 130 milhões desde seu lançamento, na Netflix

A paixão é uma espécie de niveladora universal. Quando o cupido dispara suas flechas — mesmo que não nos atinjam diretamente —, o mundo ao redor parece perder a compostura. Basta cruzarmos com alguém exibindo aquele semblante iluminado, como quem avistou um raro pássaro colorido, para que uma curiosa transformação se instale. Os já apaixonados sentem-se ainda mais tomados pelo sentimento, enquanto os desprovidos de companhia às vezes experimentam um toque de inveja disfarçada. Contudo, “Como Perder um Homem em 10 Dias” subverte completamente essa narrativa de exaltação amorosa. Nesta comédia romântica deliciosamente irreverente, os excessos, as idiossincrasias e as contradições do amor são transformados em material de riso, não de reverência.  

Sob a direção de Donald Petrie, o filme não fala de um romance genuíno, mas de uma aposta arriscada entre um publicitário galanteador e uma jornalista que vê com ceticismo as intenções masculinas. Inspirado no livro homônimo de 1998, adaptado com um toque de insanidade por Kristen Buckley, Michelle Alexander e Jeannie Long, o enredo se desenrola em um jogo de manipulação mútua que, na vida real, dificilmente resultaria em finais felizes. No entanto, no universo ficcional, é justamente esse descompasso entre expectativas e realidade que dá ao filme seu charme inusitado.  

O amor, na história humana, sempre foi uma força tanto fascinante quanto desconcertante. Desde os desenhos rudimentares das cavernas até as mais elaboradas narrativas modernas, ele tem sido um mistério que desvia da lógica e das convenções. Em “Como Perder um Homem em 10 Dias”, essa imprevisibilidade é explorada de maneira hilária e autêntica. A narrativa nos lembra que o amor raramente se apresenta na forma idealizada que esperamos. Pelo contrário, ele surge em momentos inesperados, geralmente quando acreditamos ter algum controle sobre nossa trajetória — uma ilusão prontamente desfeita pelas voltas da vida.  

E é nesse caos emocional que o filme encontra sua força. Matthew McConaughey interpreta Ben Barry, um publicitário que aposta com seu chefe que pode conquistar qualquer mulher em 10 dias, assegurando, assim, o comando de uma prestigiada campanha de joias. Do outro lado, Kate Hudson dá vida a Andie Anderson, uma colunista ácida que decide usar Ben como parte de seu experimento jornalístico: provar que é possível afastar qualquer homem em pouco mais de uma semana, submetendo-o às mais exasperantes situações. O destino, em sua habitual ironia, coloca esses dois estrategistas em um bar, onde inicia-se uma sequência de encontros que alternam entre o desconfortável, o absurdo e o absolutamente cômico.  

Petrie equilibra a extravagância com momentos de identificação. O espectador, mesmo diante das situações caricatas, se vê refletido em pequenas nuances dos protagonistas. Quem nunca exagerou, testou limites ou se perdeu no jogo de sedução e poder que permeia as relações humanas? A química entre McConaughey e Hudson garante que, mesmo nas cenas mais exageradas — que incluem um nível inesperado de humor escatológico —, o filme não perca sua alma.  

“Como Perder um Homem em 10 Dias” é uma sátira que brinca com os clichês do amor sem deixar de reconhecer sua universalidade. Entre risos e desconfortos, o público percebe que o verdadeiro motivo da identificação é simples: todos, em algum momento, já foram um Ben ou uma Andie, navegando as imprevisíveis e frequentemente hilárias curvas do amor. Afinal, como diz o ditado, na guerra e no amor, vale tudo. E quando o amor se mistura à ambição, como aqui, as regras deixam de fazer sentido — mas o entretenimento, definitivamente, não.  

Filme: Como Perder Um Homem em 10 Dias
Diretor: Donald Petrie
Ano: 2003
Gênero: Comédia/Romance
Avaliaçao: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★