“Anora” surge como um dos prováveis candidatos ao Oscar 2025, já consolidado como sucesso absoluto de crítica em festivais prestigiados como Cannes, Toronto e Nova York. A comédia romântica, escrita e dirigida por Sean Baker (conhecido por “Red Rocket” e “Projeto Flórida”), subverte as convenções do gênero e surpreende ao escapar dos clichês de um romance arquétipo.
Longe de ser um “Uma Linda Mulher” contemporâneo, “Anora” apresenta uma protagonista que desafia estereótipos. Interpretada pela talentosa Mikey Madison, Ani — como prefere ser chamada — é uma jovem prostituta que trabalha em um bar de striptease. Em meio a clientes calvos e de meia-idade, surge Ivan (Mark Eydelshteyn), um garoto russo que está de passagem pelos Estados Unidos e faz um pedido peculiar: uma acompanhante que fale seu idioma.
Ani, descendente de russos, atende ao critério, mesmo com seu russo fluente, porém não impecável. Selecionada para o programa, ela se depara com Ivan, um jovem de aparência ingênua, porém confiante, que não economiza dinheiro. Durante a interação, Ivan pergunta se Ani atende fora do ambiente do bar e, com o telefone dela em mãos, marca um novo encontro. No dia seguinte, Ani se encontra com Ivan na mansão pertencente à sua abastada família, para mais um serviço bem remunerado.
Enquanto tenta manter-se profissional, Ani percebe que está sendo conquistada pelo charme do jovem herdeiro. Embora Ivan seja imaturo e não tenha sequer um fio de barba no rosto, sua autoconfiança e atenção genuína fazem Ani se sentir especial. Com o passar dos dias, ela se torna presença constante ao lado dele — sempre com remuneração envolvida —, e juntos vivem uma rotina de excessos, incluindo festas, drogas e viradas de ano regadas a extravagâncias.
A história ganha um tom de conto de fadas distorcido quando, durante uma viagem impulsiva a Las Vegas, Ivan pede Ani em casamento. A aliança, adornada por um vistoso diamante de cinco quilates, faz Ani se sentir como Julia Roberts nos braços de um Richard Gere, só que bem mais jovem e inconsequente. Contudo, a aparente magia da lua de mel logo é interrompida pelo anúncio chegada dos pais de Ivan, que voam da Rússia até Nova York com o objetivo de anular o casamento.
O desenrolar a partir desse ponto é marcado por caos absoluto, com uma série de discussões agudas e acaloradas que lembram o frenesi de “Jóias Brutas”. A trama envereda por caminhos de tensão crescente, envolvendo pais autoritários, gângsteres russos e um noivo em fuga. Apesar do humor presente, o filme também abraça o drama, criando momentos intensos em que os gritos e conflitos geram incômodo proposital no espectador. A atmosfera claustrofóbica e carregada por personagens caricatos não permite que a narrativa se torne leve, ainda que o riso seja insegurável.
Sean Baker mantém seu estilo característico de realismo, com cenas longas e uma estética crua que reforçam a ideia de que esta não é uma comédia romântica convencional. O resultado é um filme que, embora inclua elementos típicos do gênero, rejeita o escapismo e oferece uma visão mais áspera das relações humanas.
Ovacionado por 10 minutos em Cannes, onde foi agraciado com a Palma de Ouro, “Anora” já é apontado como um dos favoritos ao Oscar, com destaque para Mikey Madison, cuja performance arrebatadora a coloca como uma das principais candidatas ao prêmio de Melhor Atriz. Com uma abordagem inovadora e provocativa, Baker entrega uma obra que não apenas entretém, mas desafia as expectativas e renova o gênero da comédia romântica.
★★★★★★★★★★