O amor pode ser como aromas que se dissipam discretamente, deixando rastros ora doces e suaves, ora intensos e ácidos. É também como as cores: às vezes vibrantes, como o sol que aquece tardes de verão, e outras tão escuras que tingem de sombra até os momentos mais luminosos. Em dias de caos, as noites se tornam frias, e a solidão, com sua aparente sutileza, revela garras afiadas, sempre sabendo onde ferir.
Vito, protagonista de “O Truque do Amor”, é um napolitano típico, com uma vida cheia de percalços. Após ceder às paixões e formar uma breve união com sua ex-namorada, descobre-se pai de um bebê encantador, cuja espontaneidade rouba a cena. A trama se concentra no atrapalhado plano de Vito para evitar a demolição do prédio onde vive com Napoleone, seu irmão e o filho, expondo as nuances de uma vida marcada por reveses e sonhos frustrados.
A comédia explora as tensões culturais, especialmente no cenário italiano, onde o invisível — como a força dos sentimentos — molda destinos. Lá, sonhos e desejos parecem florescer simultaneamente, enquanto se reflete sobre perdas irreparáveis. Vito, um eterno reclamante das desventuras que enfrenta, encontra alívio na pureza de seu filho, mas essa redenção não é tão simples quanto parece.
Os roteiristas Caterina Salvadori e Ciro Zecca criam uma narrativa onde a ruína que abriga os personagens evoca comparações com “Três Solteirões e um Bebê” (1987), mas sem a leveza ou o encanto característico. Antonio Folletto e Vincenzo Nemolato interpretam com competência os irmãos, mas a introdução de uma mulher era inevitável, pois a trama envereda para os clichês da paixão que floresce em meio ao caos.
Quando Carlo — identidade disfarçada de Vito — se aproxima de Marina de Leonardi, arquiteta responsável pelo projeto que ameaça seu lar, o clássico embate entre interesses opostos ganha contornos de romance. Folletto e Laura Adriani formam um casal cuja química é inegável, suavizando as soluções forçadas que o diretor Umberto Riccioni Carteni adota. A conclusão se assemelha a um “Romeu e Julieta” desidratado, sem a intensidade ou o lirismo que poderia elevar a história.
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