A história real mais bizarra e sinistra que você já viu e que também vai partir seu coração,  na Netflix Divulgação / Canal + Polska

A história real mais bizarra e sinistra que você já viu e que também vai partir seu coração, na Netflix

Algumas histórias são tão incomuns e excêntricas que parecem ficção, saídas das páginas de um livro, criadas por uma mente fértil e peculiar. Esse é o caso das “gêmeas silenciosas”, irmãs nascidas em Barbados, no Caribe, que, ainda muito jovens, foram levadas pelos pais ao País de Gales, onde viveram o restante de suas vidas. O caso é tão intrigante e peculiar que atraiu a atenção de revistas e jornais, inspirou documentários, pesquisas e adaptações cinematográficas.

Em “As Irmãs Silenciosas”, de 2022, dirigido por Agnieszka Smoczynska e estrelado por Letitia Wright e Tamara Lawrence, a história dessas irmãs é contada com sensibilidade e criatividade. O filme alterna entre a narrativa de seus dramas reais e momentos que exploram os contos, peças de teatro e programas de rádio que as duas criavam quando se isolavam juntas em seu quarto.

No longa, Jennifer e June são gêmeas que, aos poucos, se fecham completamente para o mundo exterior, comunicando-se apenas entre si. Embora o filme não explore em profundidade as causas, comenta que as duas sofreram bullying e isolamento na escola após se mudarem para o País de Gales. Suas dificuldades de adaptação, exacerbadas pelo sotaque e pela barreira cultural, tornaram-se terreno fértil para as violências psicológicas que enfrentaram.

Não se sabe ao certo como começou o pacto de silêncio. Teria sido uma brincadeira, uma forma de autoproteção, um gesto de lealdade entre elas? Ou talvez tudo isso ao mesmo tempo? O fato é que, gradualmente, as irmãs pararam de interagir com os pais, deixaram de sorrir, brincar em público ou agir como crianças típicas. Apenas no quarto que dividiam, em companhia uma da outra, se sentiam livres para expressar quem realmente eram.

Jennifer e June demonstravam grande inteligência e criatividade, dedicando-se a escrever romances, contos e peças de teatro, quase sempre com temáticas sombrias e psicológicas. Algumas de suas histórias chegaram a ser publicadas, mas sem grande repercussão. Apesar disso, sua produção literária era impressionante, considerando o isolamento em que viviam. No entanto, nem suas habilidades criativas nem sua ligação inquebrantável conseguiram protegê-las das consequências de seu comportamento incomum.

As irmãs passaram por terapias, estudos psicológicos e tentativas de tratamento. Foram separadas em algumas ocasiões, mas sempre acabavam juntas novamente, mantendo seu pacto de silêncio. Na adolescência, começaram a cometer pequenos delitos, como furtos e vandalismo, o que as levou à internação em um hospital psiquiátrico de segurança máxima. Ali, permaneceram por 14 anos, enfrentando isolamento, tratamentos agressivos e uma deterioração crescente de sua saúde mental e criatividade.

A história das gêmeas, retratada em “As Irmãs Silenciosas”, é uma das mais impressionantes e tristes já registradas. O filme mostra como a sociedade lida com aquilo que não compreende: rejeitando, condenando e marginalizando. É uma narrativa que expõe as falhas de um mundo que aceita apenas o que se encaixa nos moldes pré-estabelecidos, onde autenticidade, criatividade e excentricidade muitas vezes são vistas como ameaças.

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.