A vida, repleta de sinais, convida à interpretação, ainda que de maneira intuitiva, guiando nossas decisões e trajetórias. No longa “Enquanto Somos Jovens”, Noah Baumbach reafirma sua habilidade em expor as complexidades e ilusões dos relacionamentos, tecendo uma narrativa que, longe de ser convencional, explora transições e mudanças de perspectiva em casais. Essa reflexão, iniciada com “A Lula e a Baleia” (2005), evoluiu em “Margot e o Casamento” (2007) e alcançou um novo ápice em “História de um Casamento” (2018), sendo complementada pela ousadia filosófica de “Ruído Branco” (2022).
Desta vez, Baumbach propõe um olhar nuançado sobre a fragilidade das idealizações amorosas, dando voz a um personagem carismático e ambíguo, que evoca a complexidade dos grandes antagonistas. Com um roteiro afiado, o diretor questiona a ética e os valores de seu ofício por meio de diálogos incisivos, ampliando a conexão com o público. Uma transcrição de “Solness, o Construtor” (1892), de Henrik Ibsen, reforça essa dualidade ao retratar o desconforto de um homem maduro frente à ousadia juvenil, em um jogo de desafios que extrapola o físico e alcança o metafísico.
Em uma cena emblemática, uma versão delicada de “Golden Years” de David Bowie ecoa de uma caixinha de música, enquanto uma mulher, emocionada, observa um bebê. Nesse instante, a inversão de papéis, em que a criança parece oferecer consolo ao adulto, cria uma metáfora poderosa sobre a busca por significado. Cornelia e Josh, interpretados por Naomi Watts e Ben Stiller, enfrentam dilemas que vão além da questão de ter ou não filhos, refletindo sobre o lugar que ocupam na vida. Enquanto isso, Adam Driver, como Jamie, encarna a ambição desmedida, colocando em xeque as prioridades e os valores de Josh.
Apesar de algumas decisões menos impactantes, como a subaproveitada Amanda Seyfried no papel de Darby, a trama segue consistente. A relação entre gerações, marcada pela ingenuidade de um casal mais velho em contraste com a ousadia calculada dos jovens, culmina em um desfecho que denuncia as armadilhas das ambições modernas. “Enquanto Somos Jovens” destaca a importância de compreender os espaços que habitamos e as escolhas que moldam nossas vidas, antes que os tempos áureos escapem entre os dedos.
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