Taylor Sheridan, o roteirista e diretor de “Terra Selvagem”, entrega um thriller visceral que explora as profundezas da crueldade humana. Conhecido por obras como “Sicário: Terra de Ninguém” e “A Qualquer Custo”, Sheridan constrói um retrato sombrio de um mundo onde a violência masculina parece ser uma constante inescapável, e as mulheres frequentemente enfrentam um destino brutal nesse cenário implacável.
A narrativa acompanha Cory Lambert (Jeremy Renner), um caçador experiente acostumado a rastrear predadores nas gélidas montanhas de Wind River, Wyoming. Sua rotina sofre um impacto devastador ao encontrar o corpo de Natalie (Kelsey Asbille), uma jovem indígena da comunidade local. Convencido de que se trata de um assassinato, Lambert une forças com Jane Banner (Elizabeth Olsen), uma agente do FBI inexperiente, mas determinada a desvendar a verdade.
As investigações revelam um horror inimaginável: Natalie fugiu desesperadamente por quilômetros no frio extremo, até que o esforço colossal fez seus pulmões colapsarem. Enquanto Banner enfrenta as limitações burocráticas do sistema judicial, Lambert revive o trauma pessoal de ter perdido sua própria filha em circunstâncias semelhantes, um caso que nunca foi resolvido. A busca por justiça para Natalie transforma-se, para ele, em uma luta para exorcizar seus próprios fantasmas.
“Terra Selvagem” não é apenas uma ficção envolvente; sua história reflete uma realidade inquietante. O filme traz à tona o alarmante índice de feminicídios entre mulheres indígenas nos Estados Unidos, especialmente em áreas como o Wyoming, onde a trama se passa. Nas reservas indígenas, lacunas legais criam um ambiente de impunidade, permitindo que criminosos escapem ilesos. Segundo a legislação, apenas agentes federais têm autoridade para prender indivíduos não-nativos acusados de crimes contra nativos, o que frequentemente deixa as comunidades desprotegidas.
Dados da BBC revelam que, em 2020, mais de 5.200 mulheres e meninas indígenas desapareceram nos EUA, um número subestimado devido à ausência de um sistema nacional de registro. No Brasil, a situação é igualmente alarmante: em 2022, um indígena foi vítima de morte violenta a cada três dias, de acordo com a Folha de São Paulo. Mulheres indígenas, historicamente marginalizadas, enfrentam ainda mais riscos, tornando-se alvos de fetichização e violência.
Filmado em apenas 40 dias sob condições climáticas severas, “Terra Selvagem” é uma obra impactante, sustentada por atuações impecáveis de Renner e Olsen. A direção de Sheridan conduz o espectador por uma jornada emocional que combina revolta, compaixão e um senso profundo de urgência.
O filme transcende o entretenimento, transformando-se em um grito por justiça. Sheridan critica de forma contundente a inércia do sistema judicial diante da violência contra povos indígenas. “Terra Selvagem” é mais do que um filme a ser apreciado; é um manifesto que clama por conscientização e ação. Após assisti-lo, a vontade de compartilhar sua mensagem é inevitável – e necessária.
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