Maior bilheteria da história de Tarantino: filme que arrecadou 800 milhões e foi visto por mais de 100 milhões de pessoas desde seu lançamento, na Netflix Divulgação / Columbia Pictures

Maior bilheteria da história de Tarantino: filme que arrecadou 800 milhões e foi visto por mais de 100 milhões de pessoas desde seu lançamento, na Netflix

Christoph Waltz, ator austríaco com mais de quatro décadas de carreira, alcançou um marco crucial em 2010 ao interpretar o enigmático coronel Hans Landa em “Bastardos Inglórios”, de Quentin Tarantino. A performance inesquecível não apenas lhe rendeu reconhecimento mundial, mas também seu primeiro Oscar. Waltz, com seu domínio de nuances e um talento magnético, solidificou seu nome em Hollywood como um dos grandes intérpretes contemporâneos.  

O encontro entre Waltz e Tarantino não foi apenas um golpe de sorte, mas uma colaboração artística que se repetiria com “Django Livre”. Neste western reinventado, Waltz interpretou o carismático Dr. King Schultz, um dentista alemão que troca o consultório pela vida de caçador de recompensas. A atuação lhe rendeu o segundo Oscar de melhor ator coadjuvante, destacando sua habilidade em construir personagens complexos e inesquecíveis.  

A narrativa de “Django Livre” é tão ousada quanto envolvente. Schultz, ao libertar Django (Jamie Foxx) da escravidão, propõe uma parceria inusitada: juntos, eles caçam criminosos em troca de recompensas, mas com uma promessa crucial. Django deseja reencontrar sua esposa, Broomhilda (Kerry Washington), vendida para o sádico Calvin Candie (Leonardo DiCaprio), proprietário de uma fazenda no Mississipi. A relação entre Schultz e Django transcende o mero acordo comercial, construindo uma dinâmica que mistura amizade, admiração e justiça.  

Candie, um homem de gostos extravagantes e perversos, cultiva uma obsessão pela cultura francesa e organiza violentos combates entre escravos, conhecidos como “lutas de mandingos”. Para infiltrar-se em seu círculo, Schultz e Django fingem ser negociadores de escravos lutadores. Porém, o verdadeiro vilão do filme não é apenas Candie, mas também seu administrador Stephen (Samuel L. Jackson), um escravo que defende com fervor os interesses do patrão, em um papel que subverte estereótipos e provoca desconforto pela complexidade moral.  

A jornada de Django e Schultz é marcada por conflitos sangrentos, diálogos afiados e um espetáculo visual que é marca registrada de Tarantino. O diretor não poupou controvérsias: a violência estilizada e o uso desinibido de linguagem ofensiva geraram críticas severas. Will Smith recusou o papel principal, alegando que preferia protagonizar histórias que exaltassem heróis negros. Já Spike Lee classificou o filme como desrespeitoso, comparando a escravidão a um holocausto e condenando a abordagem “leve” de Tarantino.  

Ainda assim, “Django Livre” transcendeu as polêmicas para afirmar-se como uma obra significativa. Mais do que um western de vingança, o filme é um exercício de catarse histórica, onde opressores são enfrentados e derrotados em cenas que, embora fictícias, carregam um simbolismo poderoso. A vitória no Oscar de melhor roteiro original para Tarantino e de melhor ator coadjuvante para Waltz consolidaram o impacto cultural da obra.  

As atuações são uma aula de cinema. DiCaprio brilha como o inescrupuloso Candie, enquanto Jackson entrega um Stephen desconcertante em sua complexidade. Jamie Foxx, no papel de Django, confere ao personagem uma mistura de determinação e vulnerabilidade. Já Waltz, com sua habilidade inata de transitar entre humor e tensão, oferece uma interpretação que é ao mesmo tempo cativante e comovente.  

A cinematografia de Robert Richardson é outro triunfo, fundindo elementos dos faroestes clássicos com toques modernos. O contraste entre tons frios, usados em cenas de inverno, e cores quentes, predominantes no sul dos Estados Unidos, enfatiza as mudanças geográficas e emocionais da narrativa. Os closes dramáticos aumentam o suspense, enquanto o tom caricatural dos personagens reforça a identidade autoral de Tarantino.  

Com uma narrativa que equilibra crítica social, empoderamento e entretenimento, “Django Livre” consolidou-se como um marco do cinema contemporâneo. Onze anos após seu lançamento, permanece como um dos filmes mais bem avaliados do IMDb, ocupando a 57ª posição no ranking. É uma obra que provoca, emociona e permanece relevante, reafirmando o poder do cinema como agente de transformação cultural. 

Filme: Django Livre
Diretor: Quentin Tarantino
Ano: 2012
Gênero: Ação/Aventura
Avaliaçao: 10/10 1 1
★★★★★★★★★★