Não se faz um bom faroeste sem personagens imbuídos de um desejo de retaliação, que se atiram sem medo a uma jornada contra quem ameaça o sossego de sua terra mediante um crime e consegue até macular a honra de sua família com o sangue de um inocente. A premissa mostra-se verdadeira no momento em que se começa a listar algumas produções que se aprofundam sobre o argumento do acerto de contas, e os vaqueiros americanos e xerifes entram nessa equação como sacerdotes profanos e bárbaros da terra, mestres na alquimia de fazer do talento em lidar com o lado mais primitivo da natureza uma qualidade prezada não só por quem os rodeia, mas por toda a gente.
Faroestes estão na moda, e mais, séries de faroeste estão na moda, e seguindo a natureza uma das premissas básicas do gênero, uma vez concluída uma história, uma outra precisa suceder-lhe de imediato. “Terra Indomável” veio na hora certa para os amantes do western e suas derivações, matando a saudade dos fãs de “Yellowstone” (2018), de John Linson e Taylor Sheridan, ou “1923” (2022-2023), dirigida por Guy Ferland e Bem Richardson. Aqui, Mark L. Smith reproduz algumas fórmulas que garantem que essas produções sejam tão bem-sucedidas, ressaltando a sangrenta disputa por um tesouro invisível.
A Guerra Civil Americana (1861-1865) deixa como saldo um profundo fosso de desigualdades e loucura. Os homens e mulheres que tomaram parte nos eventos inescapavelmente belicosos inaugurados há 250 anos com o 4 de Julho de 1776, quando os Estados Unidos declararam sua independência da metrópole inglesa de maneira unilateral, e constituíram-se numa força vital para que o movimento vingasse, a partir de 3 de setembro de 1783, quando sua vontade de ser livre os catapultou à vitória e se viram, afinal, livres do domínio de Jorge 3° (1738-1820), rei da Grã-Bretanha e da Irlanda estão em grande medida representados no trabalho de Smith e do diretor Peter Berg, que sabe tornar atraentes o sangue, o suor, o pranto e o crepitar dos revólveres e espingardas com subtramas pautadas pelo choque cultural entre indígenas e caubóis, os dois grupos dispostos a matar e a morrer por um território num lugar qualquer do Velho Oeste americano.
É 1857, e durante aqueles dias caóticos, Isaac segue com Sara Rowell e o filho dela, Devin, ao longo da fronteira. Smith e Berg contextualizam os seis episódios mencionando hecatombes sociais a exemplo do Massacre dos Montes Meadows, uma carnificina naquela região de Utah, quando mórmons e paiutes se atacaram, em 11 de setembro de 1857. O saldo de 120 cadáveres não foi suficiente para serenar os ânimos, e “Terra Indomável” faz questão de o registrar.
À medida que o enredo toma corpo, nota-se o desejo de resgatar a atuação dos povos originários na conquista da América, e, além dos paiutes, surgem também shoshones e utes, falando em seus respectivos idiomas. Julie O’Keefe, a consultora de cultura indígena da série, orientou o elenco quanto a preservar a veia realista que é, de fato, um atributo a diferenciar a série de outras empreitadas congêneres. Berg demonstra sua habilidade para dirigir atores, e as cenas com Taylor Kitsch, Betty Gilpin e Derek Hinkey na pele do aspirante a cacique Pena Vermelha são nada menos que primorosas. “Terra Indomável” é um tiro certo.
Série: Terra Indomável
Criação: Mark L. Smith
Ano: 2025
Gêneros: Drama/Ação
Nota: 10