O sétimo capítulo da longa franquia dirigida por Christopher McQuarrie combina magistralmente sequências eletrizantes de perseguição, humor espontâneo e o eterno jogo de atração entre personagens que se completam, mas jamais convergem. Aqui, a tensão emocional é marcada por relações que pairam entre o desejo e a camaradagem, mas que nunca chegam a consolidar uma parceria verdadeira, refletindo a dualidade inerente aos protagonistas.
Inspirada pela série de Bruce Geller (1966–1973), “Mission: Impossible — Dead Reckoning Part One” expande as possibilidades além do desfecho natural. O anti-herói Ethan Hunt, agora mais vulnerável ao passar do tempo, carrega em si o peso de escolhas inevitáveis. Glen Powell, um dos destaques em “Top Gun: Maverick” (2022), é cotado como sucessor, mas a substituição de Cruise, no papel desde 1996, representa um desafio maior que qualquer cena de ação da série.
O roteiro de Erik Jendresen empurra Hunt para reflexões existenciais enquanto enfrenta missões cada vez mais impossíveis, reforçadas por tomadas íntimas que expõem as marcas do tempo. A escrita ácida de McQuarrie e Jendresen explora o desencanto de um espião envelhecido, cuja vida consiste em um ciclo incessante de perigo e sacrifício. Tudo isso é amarrado ao legado dos primeiros filmes, oferecendo substrato emocional que reverbera.
A presença de Eugene Kittridge, vivido por Henry Czerny, sublinha o cinismo de um mundo que já não pertence a Hunt. Numa das sequências mais densas, os interesses da CIA giram em torno de um dispositivo de inteligência artificial de impacto devastador, cujas duas partes de uma chave se tornam o centro de uma corrida contra o tempo. Novos e velhos rostos se juntam à trama, como Benji Dunn (Simon Pegg) e Luther Stickell (Ving Rhames), que continuam a ser o alicerce emocional da equipe.
Adições como Grace (Hayley Atwell), uma talentosa ladra, e Alanna Mitsopolis (Vanessa Kirby) inserem novas dinâmicas à narrativa, enquanto a relação com Ilsa Faust (Rebecca Ferguson) retoma uma ambiguidade afetiva que confere profundidade ao arco emocional de Hunt. A jornada se desdobra por paisagens globais, culminando em um final que equilibra adrenalina e melancolia.
Com quase três horas de duração, o filme é uma experiência visual que prende a atenção e oferece ao público uma sensação de êxtase. Enquanto o próximo capítulo já se prepara para encerrar a saga de Cruise, marcado para maio de 2025, os fãs se perguntam como a franquia se reinventará sem o rosto que a define há quase três décadas.
★★★★★★★★★★