Ganhadora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante pelo filme “Histórias Cruzadas”, Octavia Spencer é, sem dúvidas, uma das maiores atrizes de sua geração. Contudo, a carreira no cinema é frequentemente marcada por altos e baixos. Em um momento, pode-se estar interpretando um papel que rende prêmios e consagração; no outro, encarnando personagens em produções menos inspiradas, como Sue Ann, a protagonista de “Ma”, suspense mediano dirigido por Tate Taylor. Taylor, que já trabalhou com Spencer em outras ocasiões, trabalha como ator, diretor, produtor e roteirista, transitando entre obras de qualidade variada.
Embora esteja longe de ser uma obra-prima, “Ma” representa um desafio para Spencer, forçando-a a explorar aspectos pouco habituais de sua versatilidade como atriz. Neste filme, ela interpreta uma mulher solitária e sociopata que se aproxima de um grupo de adolescentes, um papel que, mesmo em meio a clichês e exageros narrativos, se beneficia da entrega cênica de Spencer. Sua performance eleva o que poderia facilmente ser uma caricatura banal, tornando o personagem mais intrigante e, por vezes, perturbador. Ainda assim, o longa comete o erro comum de muitos filmes de suspense e terror: empurra o absurdo até o limite, gerando momentos involuntariamente cômicos.
A narrativa se desenrola a partir da perspectiva de Maggie (Diana Silvers), uma adolescente que se muda para a cidade natal de sua mãe, Erica (Juliette Lewis), após o divórcio e o fracasso da carreira desta última no mundo do entretenimento. Para Erica, o retorno à cidade natal é marcado por frustrações, especialmente ao ser confrontada com antigos colegas de escola que a veem como uma derrotada. Contudo, ela demonstra resiliência, aceitando trabalhar como garçonete em um cassino local para sustentar Maggie.
Já Maggie, em busca de adaptação, rapidamente se junta a um grupo de adolescentes populares, incluindo a extrovertida Halley (McKaley Miller) e o galã Andy (Corey Fogelmanis), por quem desenvolve uma atração. Quando tentam comprar bebidas alcoólicas ilegalmente, cruzam o caminho de Sue Ann (Octavia Spencer), que, surpreendentemente, aceita ajudá-los. Mais do que isso, ela oferece o porão de sua casa como espaço para festas, transformando-se em uma figura querida pelos jovens, que passam a chamá-la de “Ma”.
O que começa como uma relação de conveniência logo se transforma em algo mais sinistro. Sue Ann usa seu carisma para manipular os adolescentes, atraindo-os repetidamente para sua casa. Sem que percebam, ela passa a controlá-los de formas cada vez mais perturbadora, utilizando drogas e outras estratégias para consolidar sua posição de poder sobre o grupo.
Paralelamente, o filme revela traumas do passado de Sue Ann, explorando sua adolescência marcada por humilhações e abusos sexuais por parte de colegas de escola. Esses eventos contribuíram para transformá-la em uma mulher profundamente amargurada e vingativa. Contudo, a tentativa de justificar suas ações através do passado é superficial, limitando o impacto emocional da história.
Apesar da dedicação de Spencer, que injeta profundidade em um papel que facilmente poderia cair no ridículo, o filme é prejudicado por um roteiro inconsistente. Os diálogos, muitas vezes tolos, e as cenas mal elaboradas comprometem a credibilidade da narrativa. Além disso, a construção da trama se apoia em reviravoltas previsíveis e momentos exagerados que minam o potencial do suspense.
“Ma” se propõe a ser um thriller psicológico, mas acaba por ser um entretenimento passageiro, que provoca alguns desconfortos pontuais sem jamais se desprender dos clichês do gênero. Embora Octavia Spencer brilhe mesmo em um ambiente pouco favorável, sua atuação não é suficiente para salvar um filme que, no fim das contas, se revela esquecível e derivativo.
★★★★★★★★★★