Keanu Reeves reafirma sua habilidade em encarnar John Wick, um personagem que transita habilmente entre a moralidade ambígua e a precisão letal. Em “John Wick 4: Baba Yaga”, ele dá vida a um anti-herói cuja brutalidade calculada é equilibrada por uma aura de complexidade e introspecção. Wick fascina não apenas por sua capacidade de eliminar inimigos com destreza impressionante, mas também por sua humanidade quebrada, marcada por um isolamento emocional que o torna um enigma. É essa combinação de atributos que mantém a audiência cativa, enquanto Reeves, em uma de suas atuações mais lapidadas, explora nuances que tornam o personagem singular dentro do cinema de ação.
A direção de Chad Stahelski, um ex-dublê com experiência em traduzir o movimento em narrativa visual, é um componente essencial na construção da identidade da franquia. Com um trabalho meticuloso e visualmente impressionante, Stahelski guia a trama com uma fluidez que combina ação incessante com momentos de introspecção. O roteiro, assinado por Derek Kolstad, Michael Finch e Shay Hatten, continua apostando na fórmula de perseguições alucinantes e conflitos morais, enquanto explora novas camadas do universo subterrâneo em que Wick opera. O antagonista da vez, o Marquês de Gramont, interpretado por Bill Skarsgård, acrescenta uma nova dimensão à rivalidade da história, embora o roteiro nem sempre aproveite plenamente o talento do ator.
O elenco de apoio oferece uma diversidade de personagens que enriquecem a trama. Laurence Fishburne retorna como Bowery King, uma figura enigmática que provê assistência ao protagonista com uma dose de sarcasmo e sagacidade. Donnie Yen brilha como Caine, um assassino cego cujas habilidades quase rivalizam com as de Wick, enquanto Hiroyuki Sanada incorpora Shimazu, o chefe do Osaka Continental, adicionando uma camada de intensidade dramática. Apesar de alguns personagens, como Tracker, vivido por Shamier Anderson, não terem o espaço necessário para brilhar, suas presenças ainda adicionam textura à narrativa. E, como sempre, é a fotografia impecável de Dan Laustsen que eleva o filme a outro patamar, com cenas visualmente deslumbrantes que realçam a violência estilizada e a energia frenética que se tornaram marcas registradas da série.
Ao longo de sua duração, o filme equilibra cenas de ação explosivas com momentos de tensão e narrativa introspectiva, oferecendo aos espectadores um espetáculo visual que mantém o ritmo sem se tornar cansativo. Mesmo que a trama siga fórmulas já estabelecidas, a execução primorosa e o compromisso com o estilo tornam “John Wick 4: Baba Yaga” um marco notável, que consolida ainda mais o legado da franquia. Trata-se de um filme que entende seu público e entrega exatamente o que se espera, sem abrir mão de surpreender com seus detalhes meticulosos e seu acabamento técnico impecável.
★★★★★★★★★★