“Olho por Olho” é uma obra que se destaca pela provocação moral que coloca no centro de sua narrativa: o que você faria se alguém que ama fosse brutalmente assassinado e o sistema de justiça falhasse em punir o culpado? Estrelado por Sally Field, Kiefer Sutherland e Ed Harris, o drama criminal explora os limites da dor, do luto e da sede de justiça, expondo as lacunas de um sistema muitas vezes impotente diante de tragédias humanas.
A trama começa com um golpe devastador: Julie (Olivia Burnette), uma adolescente cheia de vida, é assassinada em casa enquanto aguardava sua mãe, Karen (Sally Field), retornar do trabalho para celebrar o aniversário da irmã mais nova, Megan (Alexandra Kyle). A cena inicial é uma combinação visceral de horror e impotência. Durante uma ligação, Karen escuta os gritos de Julie enquanto está presa no trânsito. Quando finalmente chega em casa, a realidade é insuportável: Julie está morta, e o mundo de Karen desmorona.
A investigação avança rapidamente e aponta Robert Dobbs (Kiefer Sutherland), um entregador de supermercado, como o assassino. Apesar da confirmação de sua culpa por meio de exames de DNA, a coleta de provas sem autorização judicial leva à anulação do caso no tribunal. Dobbs é absolvido, deixando Karen à deriva entre a revolta e o desespero. A falha do sistema judicial é o catalisador para a transformação de Karen, que se vê consumida pela busca por justiça, mesmo que isso signifique tomar medidas extremas.
Enquanto tenta lidar com sua dor, Karen se junta a um grupo de apoio para pessoas em luto. Porém, a sensação de impotência persiste. Sua relação com Megan e seu marido, Mack (Ed Harris), começa a sofrer as consequências, e a ideia de vingança passa a dominar sua mente. Determinada, Karen decide perseguir Dobbs, mas a dinâmica se inverte quando ele percebe estar sendo seguido e começa a ameaçá-la e a sua família.
O filme mantém a tensão crescente até o embate final entre Karen e Dobbs. Neste momento, a narrativa se volta para um dilema ético central: a vingança pode realmente trazer paz ou é apenas mais um elo na corrente de dor e violência? Sally Field entrega uma atuação notável, retratando com profundidade a evolução emocional de Karen, de uma mãe devastada para uma mulher determinada a proteger o que ainda lhe resta.
Apesar de suas qualidades, “Olho por Olho” não escapa de algumas fragilidades. O personagem de Robert Dobbs carece de camadas mais complexas, reduzindo a densidade psicológica que poderia elevar a trama. Da mesma forma, Mack, que deveria ser uma âncora emocional ou contraponto moral, tem sua participação subutilizada, deixando a dinâmica familiar pouco explorada.
Ainda assim, o longa acerta ao levantar questões pertinentes sobre as falhas do sistema jurídico e o impacto devastador que essas omissões têm na vida das vítimas. Ao retratar a jornada de Karen, o filme ilustra a linha tênue entre justiça e vingança, ao mesmo tempo em que convida o espectador a refletir sobre até onde é aceitável ir para defender aqueles que amamos.
Mesmo com suas limitações narrativas, “Olho por Olho” é uma experiência cinematográfica intensa, sustentada pela atuação comovente de Sally Field e por um roteiro que, embora imperfeito, consegue manter o público imerso na trajetória sombria de sua protagonista. O filme não apenas emociona, mas também desafia, lembrando-nos do custo humano de um sistema que muitas vezes falha em proteger.
★★★★★★★★★★