Enredos com um fundo moralizante, de onde espera-se que o público tire lições para sua vida — por mais que todos saibamos muito bem que cada um sente suas próprias dores sozinho, ainda que diante do mundo inteiro —, fazem relativo sucesso justamente graças à maneira como de uma premissa individual chega-se, guardadas as medidas das coisas, a inferências universais, cujo alcance vai muito além do óbvio. Diz a voz rouca das ruas, coberta de razão, que o homem inteligente aprende com seus erros — e os sábios, com os dos outros.
Filmes baseados em histórias que acontecem a todo momento com gente comum sempre encerram lições, para os dois grupos, e no caso de “Outra Chance para o Amor”, o velho embate entre ciência e religião ganha corpo num vaivém de confluências e desencontros, que deságuam primeiro num perda e no consequente luto que dela brota, como uma rosa no pântano, até que o tempo, esse senhor da condição humana, estanque a sangria. Tyler Russell adapta “Someone Like You: A Novel” (“alguém como você: um romance”, em tradução literal; 2020), da americana Karen Kingsbury, de modo a deixar claro que qualquer pessoa está sujeita a passar pelo que se vê ali, mas que, quando se tem o mistério por conselheiro, a travessia pode ficar mais amena.
A despeito de se ser ou não religioso, tudo fica mais fácil quando, por alguma razão misteriosa, acredita-se num propósito superior, muito além da vã compreensão humana e de seu imediatismo animalesco. Chegar a esse ponto é que é o busílis, e mesmo quando se chega, a prova de fogo é passar por uma situação de desgaste extremo e sair do outro lado, ferido, mas vitorioso — e só se tem certeza de que é-se capaz de suportar a tempestade no momento em que a bonança já se anuncia.
Um embrião congelado perpassa a história de duas famílias, cada qual com seus segredos, e em meio a isso, um sujeito calejado, que terá de conviver com outro golpe do destino. Autodescobertas exigem muito mais que persistência, e a depender da extensão do trauma toda medida de fé que se consiga reunir ao longo de uma vida talvez não seja o bastante. Russell abre seu filme com sequências em que Dawson Gage e London Quinn, dois amigos inseparáveis, aparecem disputando corridas de esqui aquático em que ela sempre sai vencedora. London, a mocinha de
Sarah Fisher, sai de cena e, aos poucos, o diretor-roteirista explica a situação de Dawson, quase paralisado pela amargura depois desse afastamento brusco e compulsório. Mas há uma saída, e ele se propõe a seguir pelo que pode ser o início de uma nova jornada.
Por trás daquele embrião havia outro: Andi, a irmã gêmea de London, que não demora a provar que sua semelhança com a melhor amiga de Dawson está apenas na casca. Assim mesmo, Andi, também interpretada por Fisher, e Dawson, o personagem de Jake Allyn, tornam-se íntimos, gancho para que o diretor discorra sobre escolhas, a onipresença da indesejada das gentes, a força do acaso e o poder curativo do amor nesse longa à Hallmark, um prato cheio para quem gosta de respostas simples para questões complexas.
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