Alexander Payne e Paul Giamatti entregam uma parceria que transita entre o risco do fracasso absoluto e a possibilidade de encantamento pleno. Vinte anos após o misto de críticas e elogios a “Sideways — Entre Umas e Outras” (2004), a dupla retorna em “Os Rejeitados”, agora marcada por um olhar amadurecido sobre as fragilidades humanas. A narrativa explora, com perspicácia, as nuances do amor sufocado e das carências que tanto afetam os mais endurecidos quanto os ainda imaturos, revelando o drama de indivíduos que buscam cicatrizar suas próprias feridas em meio ao caos emocional.
Com roteiro assinado por David Hemingson, indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Original, a obra acumula três outras indicações: Melhor Ator para Giamatti, Melhor Filme e Melhor Montagem. Ambientado nos anos 1970, o enredo transcende o tempo ao abordar a atemporalidade dos sentimentos humanos. A fotografia granulada e esmaecida de Eigil Bryld complementa essa proposta, conferindo um ar nostálgico e universal à trama. No centro da história, desponta Paul Hunham, professor de História Geral vivido por Giamatti, cuja presença impregna a fictícia Barton Academy, uma escola elitista de Vermont, com uma atmosfera de austeridade e tradição que reflete os conflitos e hierarquias do local.
Entre os alunos, Angus Tully ganha destaque como o protagonista juvenil, abandonado no internato enquanto outros colegas desfrutam privilégios e escapadas. Sua jornada, permeada por momentos de solidão e amadurecimento, reflete o tom da narrativa. O contraponto surge com a figura de Mary Lamb, interpretada por Da’Vine Joy Randolph, cuja presença vai além de ser apenas um recurso narrativo. A personagem simboliza debates sociais cruciais, como o papel das mulheres negras em uma sociedade que as marginalizava. Sua atuação magistral rendeu-lhe o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, destacando a complexidade de sua personagem e a força emocional de cenas como a missa em memória de seu filho, Curtis, morto no Vietnã.
A trama conduz os personagens por caminhos marcados pela busca de redenção e liberdade, mesmo que os obstáculos se revelem intransponíveis. O final delicado e comovente reflete a solidão compartilhada de três indivíduos em exílio emocional, mas que, juntos, ousam sonhar com uma libertação pessoal. A justaposição entre a rigidez do ambiente e os desejos íntimos dos personagens torna “Os Rejeitados” uma experiência profundamente humana e inesquecível.
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