Candidato ao Oscar 2025, novo filme de Ridley Scott, com Denzel Washington, acaba de estrear no streaming Divulgação / Paramount Pictures

Candidato ao Oscar 2025, novo filme de Ridley Scott, com Denzel Washington, acaba de estrear no streaming

Com “Gladiador 2”, Ridley Scott continua a encarar o velho desafio de convencer a audiência a libertar-se do hábito nos efeitos especiais finamente trabalhados da computação gráfica e se transporte para a Roma Antiga deixando-se levar mormente pela imaginação. Esse universo paralelo de um tempo bárbaro, em que eram comuns arenas no centro da cidade como ribalta em que escravos e feras lutavam entre si, até que apenas um restasse com vida, serve de porto de uma jornada na qual Scott reconstrói um épico pós-moderno sobre honra, desgraça, inveja, morte, vingança e redenção, sentimentos que amalgamam-se num único homem, um herói inconformado com o que fizeram dele e dos seus, que luta antes de mais nada contra seu próprio martírio, e agarra a grande oportunidade com que a sorte, de um jeito torto — como sói acontecer —, o regala a fim de ajustar contas com um algoz que encarna tudo quanto alguém pode ter de mais vil. Passado um quarto de século desde o primeiro longa, o roteiro de Peter Craig, David Franzoni e David Scarpa mira justamente um antagonista que rouba a cena, a ponto de desejarmos um rompimento com a estrutura narrativa que coroa a trajetória de um homem comum que sobrepuja os poderosos de seu tempo.

No ano 180 da era cristã, o Império Romano estendia-se dos desertos da África às fronteiras do norte da Inglaterra (ou seja, todo o mundo que se poderia conhecer), e mais de 25% da população desse planeta arcaico, sobre o qual sabe-se muito menos do que se pensa, vivia e morria sob as leis draconianas e tirânicas dos césares, imperadores que se sucediam no comando do destino dos homens, mas sem nenhum apreço por eles, com as bênçãos do Senado, que na prática era só um simulacro de representação popular. Ao cabo de doze anos, a campanha de Marco Aurélio (121-180) contra as tribos bárbaras da Germânia tem um desfecho, malgrado reste uma fortaleza — um dos grandes erros do monarca, como se sabe.

Dezesseis anos após a morte de Maximus, o herói vivido por Russell Crowe, uma sequência de confrontação física milimetricamente coreografada diz ao espectador que Scott ambiciona fazer com que seu filme suba alguns degraus na escala da violência, concentrando-se basicamente numa dupla que incendeia a tela. O general romanoMarcus Acacius e Lucius Verus, também conhecido como Hanno, um refugiado cuja descendência torna-se a chave para entender o turbilhão ódio que Scott traz para o centro. Acacius mata a esposa de Lucius num ataque sub-reptício, o que leva o enredo para a batalha campal que os dois irão travar no Coliseu, o grande momento aqui. Enquanto isso, o diretor revela segredos talvez ainda mais impactantes, como o laço de sangue entre o cativo e Lucilla, a companheira de Maximus no longa de 2000, interpretada por Connie Nielsen. 

Se Pedro Pascal e Paul Mescal dominam a cena até a metade, o que resta (e resta muito) pertence a Denzel Washington. Seu Macrinus, um tratador de gladiadores da alguma colônia no continente africano, presume-se, fica espantado com o traquejo de Lucius ao se livrar da ofensiva de babuínos selvagens e aos poucos a argúcia desse homem experiente, visionário, quanto a usar o escravo para tentar uma reviravolta nos rumos da política romana nos diz que isso pode ser Hollywood, mas também “Júlio César” (1599), o tratado dos tratados sobre conspirações e deslealdade como armas vitais no jogo do poder. Scott não é Shakespeare, mas como já fizera em “Napoleão” (2023) ou mesmo “Perdido em Marte” (2015), descobre entre as boas intenções dos homens influentes a podridão de reinos que acabam por ruir. E o show não para.

Filme: Gladiador 2
Diretor: Ridley Scott 
Ano: 2024
Gênero: Ação/Aventura/Drama
Avaliaçao: 9/10 1 1
★★★★★★★★★
Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.