Adaptações de jogos para o cinema dependem de estratégias cuidadosas para atrair tanto fãs quanto novos espectadores. Em “Warcraft — O Primeiro Encontro de Dois Mundos”, Duncan Jones opta por uma abordagem que equilibra drama e fidelidade ao material original. A narrativa apresenta a batalha entre orcs e humanos, figuras emblemáticas da fantasia medieval, traduzidas para a tela com o auxílio de elaborados efeitos visuais e uma pesada dependência da computação gráfica, deixando a atuação em segundo plano. Inspirados pelas criações de Jeffrey Kaplan, Rob Pardo e Tom Chilton, os personagens se mantêm reconhecíveis para os jogadores, mas a transposição para o cinema traz desafios: a essência do jogo muitas vezes sobrepõe-se à liberdade narrativa, resultando em uma obra que oscila entre agradar aos fãs e oferecer algo mais substancial.
O roteiro, assinado por Jones e Charles Leavitt, abre com uma impactante cena que estabelece o tom visual e emocional da trama. A fotografia de Simon Duggan ressalta a grandiosidade do conflito por meio de composições como a de um combatente solitário diante de um céu vasto e quase imaculado. A partir daí, o narrador guia o público por um enredo que mistura mitologia e política, com menções a inimigos ocultos, magia destrutiva e facções que ameaçam a estabilidade do reino de Azeroth.
Embora repleto de detalhes para agradar os jogadores, o filme encontra sua força quando foca nas histórias de personagens como Durotan e Draka, interpretados com notável sensibilidade por Toby Kebbell e Anna Galvin. A trama se torna mais envolvente à medida que expande os conflitos internos e dilemas éticos de figuras centrais como Medivh (Ben Foster) e Garona Halforcen (Paula Patton), cuja lealdade dividida confere um toque humano ao épico. Ainda que o excesso de explicações e a reverência ao material original possam afastar o espectador casual, momentos como o abandono do pequeno Go’el, evocando ecos de Moisés, oferecem pistas de uma mitologia maior que pode ganhar força em futuros capítulos.
★★★★★★★★★★