Tom Hanks em um dos filmes mais subestimados e impactantes da história da Netflix: um clássico moderno Divulgação / Netflix

Tom Hanks em um dos filmes mais subestimados e impactantes da história da Netflix: um clássico moderno

Jefferson Kyle Kidd, um veterano de guerra marcado pelas batalhas e transformações de sua época, encontra uma nova forma de existência como leitor de notícias itinerante em “Relatos do Mundo”. Em uma América profundamente dividida após a Guerra Civil, Kidd leva informações e histórias às comunidades mais isoladas, narrando eventos que conectam os moradores ao mundo além dos limites de seus vilarejos. Nesse contexto, a direção de Paul Greengrass, em mais uma colaboração com Tom Hanks após “Capitão Phillips” (2013), constrói uma narrativa que exalta o heroísmo como fundamento para a convivência civilizada. A jornada de Kidd explora não apenas os desafios de uma nação em reconstrução, mas também a necessidade de respeitar e compreender as diferenças que compõem sua essência.

Embora o filme aborde temas históricos de forma tangencial, como a Décima Terceira Emenda que aboliu a escravidão nos Estados Unidos em 1865, é na relação entre os personagens e nas sutilezas sociais do período que reside sua força. Em meio a uma travessia pelo Velho Oeste, Kidd cruza seu caminho com Johanna Leonberger, uma jovem germano-americana criada por uma tribo Kiowa após a morte trágica de sua família. A relação entre os dois é o coração pulsante de “Relatos do Mundo”, mostrando como conexões improváveis podem surgir mesmo em cenários adversos. Enquanto enfrentam perigos constantes, a dupla desenvolve um laço que transcende diferenças culturais e gerações, refletindo a luta por sobrevivência e identidade em um território ainda indomado.

Ambientado em 1870, cinco anos após o fim da Guerra de Secessão, o filme oferece um panorama detalhado de uma sociedade em transição, buscando se estabelecer como um Estado democrático. O roteiro, assinado por Greengrass e Luke Davies, traz um protagonista inspirado no personagem do romance homônimo de Paulette Jiles. Kidd é um viajante dedicado a informar aqueles que dispõem de poucos centavos e um pouco de tempo para ouvir suas narrativas. Durante uma de suas jornadas, ele encontra Johanna, e juntos enfrentam as adversidades de um país marcado por divisões étnicas e disputas territoriais. A parceria improvável entre Kidd, vivido magistralmente por Tom Hanks, e Johanna, interpretada com delicadeza pela estreante Helena Zengel, é um dos maiores destaques de “Relatos do Mundo”.

Paul Greengrass utiliza o Velho Oeste como um microcosmo para explorar os dilemas de uma nação em formação, trazendo à tona tensões raciais, culturais e sociais. O filme evoca a coexistência entre os três grandes grupos que povoaram os Estados Unidos à época — indígenas, brancos e negros —, revelando como suas relações moldaram a história do país. Com a trilha sonora magistral de James Newton Howard, o público é transportado para um cenário onde a sobrevivência era desafiada diariamente por perigos físicos e pela complexidade das interações humanas. Em cenas como o embate com o vilão Ron Avalon, vivido por Michael Angelo Covino, a narrativa atinge um nível de tensão que reflete a luta constante pela civilização em um ambiente hostil.

No desenrolar de “Relatos do Mundo”, a jornada de Kidd e Johanna assume os contornos de um road movie, mesclando ação, introspecção e emoção. Enquanto enfrentam bandidos e preconceitos, os dois protagonistas também se deparam com suas próprias limitações e medos. O filme não apenas narra uma história de sobrevivência, mas também explora questões universais como a importância da empatia, da resiliência e da conexão humana em tempos de adversidade. Ao final, “Relatos do Mundo” deixa uma reflexão profunda sobre as cicatrizes da história e as possibilidades de um futuro mais justo, onde diferenças possam ser vistas como forças, e não divisões.

Filme: Relatos do Mundo
Diretor: Paul Greengrass
Ano: 2020
Gênero: Ação/Drama
Avaliaçao: 10/10 1 1
★★★★★★★★★★