Top 3 no Brasil: John Travolta em um dos filmes mais icônicos do universo Marvel Divulgação / Lionsgate Entertainment

Top 3 no Brasil: John Travolta em um dos filmes mais icônicos do universo Marvel

Um longa-metragem intitulado “O Justiceiro” já carrega a expectativa de uma narrativa repleta de violência, e esta adaptação da Marvel cumpre tal promessa com zelo. Pontes se tornam palcos de quedas fatais, famílias inteiras são aniquiladas, e até mesmo piercings se tornam vítimas de brutalidade. Entretanto, o que realmente molda a experiência do espectador é o humor ácido que permeia o filme, temperado por lapsos de tolice que enfraquecem sua força em momentos cruciais.

John Travolta assume o papel de Howard Saint, um chefão do crime que mescla explosões de ira com instantes de vulnerabilidade, criando um vilão cuja interpretação exagerada reflete o tom cômico dos quadrinhos, mas falha em transmitir verdadeira ameaça. A ausência de profundidade no personagem reduz a potência do embate central, deixando claro que uma abordagem mais complexa teria elevado o drama e tornado a rivalidade memorável.

O enredo se desenrola quando Saint orquestra o massacre de Frank Castle (Thomas Jane), um agente do FBI, e de toda a sua família, como retaliação pela morte de seu filho em uma operação. Castle, milagrosamente sobrevivente, transforma-se no Justiceiro, um vigilante consumido pela vingança. Jane entrega uma atuação sólida, equilibrando dor e determinação em uma interpretação marcada por intensidade. Sua jornada é acentuada por visuais impactantes que destacam a transição de homem comum a executor incansável. Momentos de humor sombrio, como a tortura simulada com um picolé, trazem alívio inesperado sem destoar do clima geral.

Sob a direção de Jonathan Hensleigh, a tragédia inicial de Castle é narrada com brutalidade, enquanto um dia ensolarado de confraternização familiar se transforma em um banho de sangue. A escolha de incluir vítimas indefesas, como crianças e idosos, aumenta o peso emocional da cena, mas o impacto é atenuado à medida que a narrativa se torna caricatural. As mudanças de tom comprometem o potencial dramático da trama, que oscila entre o sombrio e o absurdo.

A narrativa mistura realismo com os excessos típicos de adaptações de quadrinhos, resultando em uma obra de tons conflitantes. Os duelos entre Castle e antagonistas excêntricos, como um guitarrista-assassino e o brutal “Russo”, são visualmente criativos, mas desafiam a lógica narrativa. A insistência de Saint em enviar capangas individuais contra um vigilante tão eficiente evidencia falhas de roteiro e prejudica o desenvolvimento de dilemas morais mais profundos.

Os vizinhos de Castle trazem leveza, mas também destoam do tom sombrio esperado. Ben Foster, como Dave, e Rebecca Romijn-Stamos, como Joan, oferecem momentos de humanidade e tensão, embora suas presenças nem sempre se integrem ao clima do filme. Uma das cenas mais tensas surge quando o consigliere de Saint, vivido por Will Patton, transforma sua falsa cordialidade em violência explícita.

Visualmente, o filme aposta em efeitos práticos para reforçar a brutalidade das cenas de ação, evitando excessos de CGI. Contudo, falha em detalhes como o uso de dublês desproporcionais, comprometendo a imersão em sequências críticas e gerando risos involuntários.

Com violência gráfica assumida, “O Justiceiro” explora a criatividade em cenas de combate, mas evita questionar o lado mais intrigante de seu protagonista: sua ambiguidade moral. Diferente de outros heróis, Castle não possui um código de conduta rígido, e essa característica poderia ter rendido reflexões profundas sobre justiça e vingança. Ao suavizar tais dilemas, o longa transforma um personagem promissor em mais um vigilante genérico.

Embora entregue ação e humor negro, o filme não abraça plenamente o potencial de sua narrativa sombria. A hesitação em aprofundar temas controversos e explorar a complexidade de Castle limita sua relevância, resultando em uma experiência que entretém, mas não ressoa em um nível mais significativo. Ele diverte, mas deixa no ar o gosto de uma oportunidade perdida de oferecer uma reflexão mais contundente.

Filme: O Justiceiro
Diretor: Jonathan Hensleigh
Ano: 2004
Gênero: Ação/Thriller
Avaliaçao: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★