O filme da Netflix que mergulha em uma teoria de Hannah Arendt bagunça sua mente e te deixa obcecado Divulgação / Netflix

O filme da Netflix que mergulha em uma teoria de Hannah Arendt bagunça sua mente e te deixa obcecado

Explorando como adotamos diferentes identidades ao longo da vida — algo mais intenso para algumas pessoas —, este thriller de Jim Mickle combina referências de grandes clássicos do suspense, como “Seven” (1995) e “O Silêncio dos Inocentes” (1991), para criar algo que soa familiar, mas é inegavelmente singular. Apesar de inserir elementos de ficção científica, a narrativa é tão ancorada em realismo que, por vezes, faz esquecer sua origem especulativa. Mickle, em mais de duas décadas de carreira, demonstra habilidade única para usar crimes aparentemente inexplicáveis como pontes para debates mais profundos, mesmo correndo o risco de desagradar quem prefere tramas convencionais. Após superar o desconforto inicial, o filme se revela como uma provocação que obriga o público a revisitar temas negligenciados, oferecendo ferramentas para compreendê-los, sem aliviar a responsabilidade do espectador no processo.

A força de uma narrativa inusitada reside, em grande parte, na competência do elenco, capaz de levar a audiência ao cerne da história. Michael C. Hall e Boyd Holbrook assumem essa responsabilidade, mesmo tropeçando em alguns momentos do roteiro de Gregory Weidman e Geoffrey Tock. Sob a direção de Mickle, os atores conseguem se redimir a tempo. Holbrook interpreta Tom Lockhart, um policial de Filadélfia que sonha em ser detetive, almejando não apenas reconhecimento, mas uma renda que sustente sua família em crescimento. O cenário de 1988 apresenta um caso bizarro: três vítimas, assassinadas da mesma maneira peculiar, levam Lockhart a uma jovem misteriosa, vivida por Cleopatra Coleman. A partir daí, a trama se desdobra com mistérios que conectam o detetive à enigmática personagem. Entre saltos temporais e eventos que desafiam a lógica, a investigação se transforma em uma reflexão sobre memória, identidade e as conexões humanas.

Avançando no tempo, a história mantém sua densidade, enquanto os crimes ganham novas camadas. A fotografia de David Lanzenberg, com tons de azul-petróleo que remetem ao universo sombrio do “Batman”, cria uma atmosfera que dialoga com os dilemas éticos e existenciais dos personagens. Jim Mickle não se contenta com os limites do gênero e amplia o escopo, incluindo elementos de sátira social que desafiam convenções cinematográficas. Apesar de não ser o ápice de sua filmografia — “Somos o Que Somos” (2013) continua sendo uma obra superior —, o diretor entrega uma experiência que reflete seu domínio técnico e sua audácia temática. Este filme é um noir moderno que transita entre o mistério, a crítica social e a ficção científica, sem perder sua essência.

Filme: Sombra Lunar
Diretor: Jim Mickle
Ano: 2019
Gênero: Ficção Científica/Policial/Suspense
Avaliaçao: 9/10 1 1
★★★★★★★★★