‘Apocalypse Now’ no espaço: filme inspirado em clássico de Francis Ford Coppola, com Brad Pitt, na Netflix Francois Duhamel / 20th Century Studios

‘Apocalypse Now’ no espaço: filme inspirado em clássico de Francis Ford Coppola, com Brad Pitt, na Netflix

Poucas obras cinematográficas conseguem equilibrar a grandiosidade do espetáculo visual com uma introspecção profundamente humana. “Ad Astra – Rumo às Estrelas”, dirigido por James Gray, é um desses raros exemplos. O filme transcende a ficção científica tradicional ao explorar temas universais como a relação entre pai e filho, os limites da ambição humana e a busca pela redenção em meio ao vácuo do espaço. Tudo isso é ancorado na performance magistral de Brad Pitt, que dá vida ao major Roy McBride com uma combinação de vulnerabilidade e determinação raramente vistas em heróis cinematográficos.

Ao contrário de Mark Watney, vivido por Matt Damon em “Perdido em Marte”, McBride não se perde em um planeta distante, mas em seus próprios conflitos internos. Desde o início, ele é apresentado como um homem meticulosamente treinado para controlar suas emoções, mas é justamente esse controle que o distancia da humanidade. Sua jornada, no entanto, não é apenas uma missão interestelar; é uma odisseia emocional em busca de respostas para as feridas deixadas pelo pai, Clifford McBride, interpretado com intensidade contida por Tommy Lee Jones. Clifford é um homem que, ao abandonar a família e se perder em sua obsessão pelo Projeto Lima, deixa um legado de trauma e abandono que molda a vida de Roy.

O roteiro, assinado por James Gray e Ethan Gross, é engenhosamente elaborado para equilibrar momentos de suspense e introspecção. A estrutura narrativa reflete a fragmentação interna do protagonista, que luta para conciliar seu dever como astronauta com suas frustrações pessoais. Cada encontro ao longo do caminho – seja com adversários inesperados ou com verdades incômodas — adiciona camadas à complexidade do personagem. Em especial, o embate final entre Roy e Clifford é um momento de rara densidade dramática, no qual ambos os atores entregam performances que ecoam muito além da tela.

Visualmente, “Ad Astra” é uma obra-prima. A fotografia de Hoyte van Hoytema transforma o espaço sideral em uma paisagem tanto deslumbrante quanto desoladora. Cada quadro é minuciosamente composto para reforçar o isolamento do protagonista, enquanto o design de som sublinha a vastidão aterradora do universo. Esses elementos estéticos não são meramente decorativos; eles são parte integrante da narrativa, refletindo a solidão e o vazio que Roy enfrenta — tanto externamente quanto dentro de si.

Outro aspecto notável é a forma como o filme aborda as ambições humanas. Enquanto muitas produções de ficção científica exaltam a exploração espacial como um triunfo da humanidade, “Ad Astra” adota um tom mais cético. A narrativa sugere que, na busca por conquistar as estrelas, muitas vezes negligenciamos as conexões que nos tornam verdadeiramente humanos. Essa mensagem é especialmente evidente na relação entre Roy e Clifford, que simboliza a tensão entre aspiração e responsabilidade, ambição e sacrifício.

No entanto, o filme não se limita a um estudo de personagens ou a uma reflexão filosófica. Ele também entrega cenas de ação de tirar o fôlego, como a perseguição lunar e o enfrentamento em Saturno. Essas sequências são executadas com uma precisão coreográfica que aumenta a tensão sem jamais comprometer o ritmo contemplativo da narrativa.

“Ad Astra — Rumo às Estrelas” é, acima de tudo, uma meditação sobre o que significa ser humano em um universo vasto e indiferente. É um convite à introspecção, um lembrete de que, mesmo diante da imensidão do cosmos, nossas relações e nossas emoções são o que realmente nos definem. Brad Pitt entrega uma das melhores atuações de sua carreira, enquanto James Gray firma seu lugar como um dos diretores mais visionários de sua geração. Este é um filme que merece não apenas ser assistido, mas contemplado, pois suas camadas revelam algo novo a cada revisita.

Filme: Ad Astra
Diretor: James Gray
Ano: 2019
Gênero: Ficção Científica
Avaliaçao: 9/10 1 1
★★★★★★★★★