Seria possível um filme repleto de fórmulas conhecidas devolver a vitalidade a uma atriz que enfrentou anos de injustiças na carreira? “Pedido Irlandês” parece responder afirmativamente, reunindo paisagens irlandesas deslumbrantes, um toque de fantasia e a presença magnética de Lindsay Lohan. Sob a condução de Janeen Damian, que já colaborara com a atriz em “Uma Quedinha de Natal”, o longa reafirma o carisma de Lohan ao trazê-la no papel de Maddie Kelly — uma editora de livros que vive à sombra dos outros, até ser forçada a confrontar seus próprios desejos em meio a uma narrativa cheia de reviravoltas.
Maddie é apresentada como uma personagem cativante, embora tímida, que trocou seus projetos literários por um emprego fixo em uma grande editora de Nova York. Lá, trabalha com o renomado autor Paul Kennedy (Alexander Vlahos), cuja postura egocêntrica contrasta com o fascínio que ele exerce sobre Maddie. Secretamente apaixonada, ela vê uma chance de confessar seus sentimentos durante o lançamento de um novo best-seller — uma obra que ela ajudou significativamente a criar. No entanto, seus planos são interrompidos quando Paul volta sua atenção para Emma (Elizabeth Tan), a melhor amiga de Maddie. Em pouco tempo, todos estão rumo à Irlanda para o casamento do casal, na requintada propriedade da família de Paul.
O roteiro usa essa premissa para explorar o humor e a ironia que surgem das interações entre Maddie e James (Ed Speleers), um fotógrafo inglês que ela conhece durante uma troca de malas no aeroporto. A dinâmica entre os dois, inicialmente marcada por trocas de farpas, evolui gradualmente em meio à imponência de locações como a Killruddery House. Mas é o encontro de Maddie com uma mística cadeira de desejos que muda tudo: provocada por uma Santa Brígida travessa (Dawn Bradfield), ela verbaliza seu desejo de se casar com Paul, apenas para acordar no dia seguinte vivendo exatamente essa realidade. O problema? Seu desejo tem consequências que rapidamente se revelam catastróficas.
Enquanto Paul exibe comportamentos ainda mais grosseiros, James emerge como uma figura surpreendentemente compatível com Maddie, tanto em valores quanto em ambições. O filme aproveita cenários icônicos como as Falésias de Moher, capturadas de forma tão envolvente que funcionam quase como um convite ao turismo. É nesses momentos que Maddie começa a questionar se o que ela desejava era realmente o que queria ou apenas uma tentativa de reafirmar sua própria relevância em um contexto que a fazia sentir invisível.
A força de “Pedido Irlandês” está em como ele equilibra clichês do gênero com um tom de conto de fadas modernizado. A ideia de que certos santos concedem não o que pedimos, mas o que precisamos, acrescenta uma camada simbólica interessante à trama. No entanto, o filme se sustenta mesmo é na atuação de Lindsay Lohan. Sua performance resgata a energia cômica que marcou trabalhos anteriores, como “Sorte no Amor”, mas com uma maturidade que a torna mais identificável. Janeen Damian acerta ao valorizá-la com enquadramentos que capturam sua expressão com naturalidade e luzes suaves que ressaltam seu carisma.
Por outro lado, o elenco de apoio apresenta altos e baixos. Alexander Vlahos interpreta Paul com um exagero proposital que funciona ao destacar sua vaidade, mas Jane Seymour, como Rosemary, a mãe de Maddie, tem sua presença limitada a cenas pouco impactantes. Ayesha Curry, embora simpática, ainda está aperfeiçoando suas habilidades de atuação, enquanto Jacinta Mulcahy entrega uma Olivia caricatural. Elizabeth Tan tem momentos emocionantes como Emma, mas seu arco narrativo carece de profundidade, o que dilui o impacto emocional de sua situação.
Ainda assim, o filme compensa essas falhas com sua ambientação. Locais como Lough Tay e as Falésias de Moher são apresentados com tamanha vivacidade que se tornam quase tão essenciais quanto os próprios personagens. A trilha sonora de Nathan Lanier, embora às vezes cafona, contribui para o clima nostálgico e mágico com variações inspiradas na música celta, reforçando o escapismo que a história busca proporcionar.
No final, “Pedido Irlandês” não almeja revoluções no gênero da comédia romântica, mas sim resgatar a essência que o tornou tão amado. A roteirista Kirsten Hansen se apoia em situações familiares com leveza e charme, criando uma narrativa que, embora previsível, convida o público a torcer pela protagonista e a desfrutar do caminho até a conclusão.
O grande triunfo do filme é, sem dúvida, Lindsay Lohan. Sua presença transborda carisma e entrega um equilíbrio entre humor, vulnerabilidade e autodescoberta. Em um momento em que sua trajetória pessoal e profissional parecia ter perdido o brilho, ela reencontra aqui uma plataforma para mostrar que ainda tem muito a oferecer. A jornada de Maddie reflete, em certo nível, o próprio percurso da atriz: um retorno à visibilidade e à aceitação.
“Pedido Irlandês” é mais do que um passatempo leve; é uma celebração da capacidade de recomeçar e de encontrar beleza no previsível. Não pretende ser grandioso, mas cumpre com maestria o papel de encantar, entreter e lembrar que, mesmo em meio aos clichês, há espaço para novas histórias e novos começos. Se este é o ponto de partida para uma nova fase na carreira de Lohan, que venham mais produções, porque o público está pronto para vê-la brilhar novamente.
★★★★★★★★★★