Nosferatu é uma variação da grafia “nesuferit”, de origem húngaro-românica, que significa “intolerável”. Na arte, o nome tornou-se sinônimo de “vampiro”. A palavra foi utilizada na literatura por Bram Stoker para descrever “Drácula”, no livro de 1897. Duas décadas depois, o cineasta alemão F.W. Murnau tentou adaptar a obra para o cinema, mas não obteve autorização dos herdeiros do autor. Determinado, alterou detalhes da história e nomes de personagens, preservando os eventos centrais e criando o clássico do expressionismo alemão, “Nosferatu”.
Pioneiro no gênero de filmes de vampiro, “Nosferatu” trouxe ao cinema e à cultura popular a figura grotesca e demoníaca dos sugadores de sangue. Mais tarde, outros arquétipos foram criados, transformando os vampiros em figuras mais belas, camufladas entre os humanos, sexualizadas e magnéticas, que seduziam suas vítimas em vez de aterrorizá-las.
Robert Eggers, um dos cineastas mais proeminentes da atualidade, é considerado um mestre do terror e do mistério. Com obras sobrenaturais que não apenas assustam, mas criam uma tensão crescente e palpável, Eggers é responsável por filmes como “A Bruxa”, “O Farol” e “O Homem do Norte”. Graças ao respeito e à influência conquistados na Sétima Arte, ele decidiu apresentar sua própria versão de “Nosferatu”.
O “Nosferatu” de Robert Eggers já nasce aclamado, embora mantenha certa independência em relação à versão de Murnau, apesar das evidentes influências do expressionismo alemão. Com uma fotografia dessaturada e um marcante uso de chiaroscuro — especialmente em cenas onde as sombras são intensas e a iluminação provém de velas —, o filme destaca o minimalismo das ambientações, o que intensifica a sensação de vulnerabilidade dos personagens. Longas sequências contemplativas e a forte presença do folclore local enriquecem ainda mais a narrativa.
Eggers é conhecido por seu rigor histórico e pela atenção aos detalhes. Ele realiza pesquisas minuciosas sobre o período e o contexto de suas histórias, o que resulta em figurinos, cenografias e uma estética que, embora realista, mistura com habilidade o naturalismo à superstição e à fantasia.
Na trama, Thomas e Ellen Hutter (Nicholas Hoult e Lily-Rose Depp) são um casal recém-casado e apaixonado. Thomas, um jovem advogado recém-formado, é encarregado de uma tarefa complexa e potencialmente lucrativa: viajar até um castelo na Romênia — enquanto vivem na Alemanha — para formalizar a venda de uma antiga propriedade ao Conde Orlof (Bill Skarsgård).
Ao chegar ao castelo, Thomas descobre que o conde é, na verdade, uma entidade demoníaca obcecada por sua esposa Ellen. Orlof o atraiu para formalizar o fim de seu casamento com Ellen e agora precisa apenas que ela aceite, de livre e espontânea vontade, casar-se com ele. Caso ela recuse, o vampiro ameaça destruir todas as pessoas que ela ama.
Ellen, que desde a infância sofre de sonambulismo, delírios e crises epilépticas, revela ter uma conexão antiga com o sobrenatural. Anos antes, em um momento de sofrimento após a perda da mãe e o abandono pelo pai, Ellen invocou uma entidade para consolá-la. Essa conexão espiritual permaneceu, mas com o tempo, tornou-se um fardo. Manipulada por Orlof, ela perde gradualmente a distinção entre realidade e sonho, tornando-se prisioneira de uma relação abusiva e sobrenatural.
Aaron Taylor-Johnson interpreta Sievers, amigo de Thomas que oferece abrigo a Ellen durante a ausência do marido e acaba sofrendo as consequências de protegê-la. Willem Dafoe, por sua vez, dá vida a um médico especialista em ocultismo, chamado para ajudar Ellen a se libertar do domínio de Nosferatu.
Como Conde Orlof, Bill Skarsgård se distancia do visual clássico do vampiro careca de Murnau. Aqui, ele incorpora um conde grotesco, com bigodes — uma tentativa de Eggers de se aproximar da aparência tradicional dos antigos romenos. O personagem, meio putrefato, é ainda mais assustador. Para intensificar sua atuação, Skarsgård tomou aulas de canto lírico para atingir tons vocais mais graves e trabalhou com linguistas para aprender o romeno antigo, garantindo autenticidade à sua interpretação.
A atmosfera do filme é gótica e sombria, tão escura que, por vezes, dificulta enxergar as cenas, contribuindo para um clima opressor e, ao mesmo tempo, para fomentar a imaginação do espectador. O elenco entrega atuações extraordinárias, com destaque para Lily-Rose Depp, que oferece uma interpretação impressionante como Ellen. Com todos esses elementos, “Nosferatu”, de Robert Eggers, está destinado a se tornar um novo clássico do terror, inesquecível e perturbador, reafirmando o talento do diretor e sua capacidade de reinventar narrativas consagradas.
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