A narrativa de “O Diário de uma Virgem” resgata um sabor nostálgico sem resvalar no exagero, introduzindo os créditos iniciais em objetos típicos dos anos 90, como fitas cassete e calendários. A obra de Maggie Carey é ambientada em 1993, ano em que muitos jovens tiveram seu primeiro encontro marcante com o cinema por meio de Spielberg e seu icônico “Jurassic Park”. Assim como o diretor vislumbrou crianças sonhando em visitar seu parque fictício, Carey parece desejar transportar o público para outra época. Brandy Klark, a protagonista nerd e brilhante, reflete o espírito de seu tempo: uma jovem presidente do clube de matemática e editora do jornal escolar, mas sem vivências amorosas relevantes. Determinada a mudar isso, embarca em uma jornada peculiar, repleta de decisões atrapalhadas.
O roteiro de Carey é um caos proposital, que orbita Brandy e suas dificuldades em lidar com as expectativas das amigas de se enquadrar nos padrões adolescentes: beber, experimentar drogas e perder a virgindade. Apesar das trapalhadas, Brandy mantém sua integridade moral, desafiando com sutileza as ideias de figuras como Hillary Clinton e defendendo no discurso de formatura que jovens também podem ser sábios — mesmo que, no fundo, ela pareça a única com essa característica. Suas amigas, vividas por Alia Shawkat e Sarah Steele, levam vidas simples e despreocupadas, o que acentua a sensação de deslocamento da protagonista. No cenário de Boise, Idaho, esse desajuste se torna ainda mais inquietante.
Ao optar por um humor escatológico, Carey mergulha de cabeça no absurdo. Uma festa com uma estranha bebida verde conduz a diálogos sobre práticas sexuais não convencionais, culminando no momento em que as amigas de Brandy decidem ajudá-la a completar sua “missão”. Nesse ponto, a obra flerta perigosamente com produções como “American Pie” ou “Porky’s”, perdendo parte de sua identidade inicial. Ainda assim, Aubrey Plaza entrega uma atuação consistente, mesmo que distante de seus trabalhos mais inspirados, como em “Best Sellers – A Última Turnê” ou o aclamado “Meu Eu do Futuro”.
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