Criminosos astutos lideram um assalto engenhoso enquanto policiais, oscilando entre estratégias meticulosas e impulsos explosivos, tentam frustrar seus planos. Essa dinâmica, por si só, não é novidade. O verdadeiro fascínio dessas narrativas está em como expõem preconceitos ocultos relacionados a questões amplas, como segurança pública e desigualdade social. Com sensibilidade, tocam em temas delicados, como o comportamento policial sob pressão e o impacto das disparidades socioeconômicas, rejeitando estereótipos que poderiam esvaziar o debate antes mesmo de começar. São narrativas que desvendam, com perspicácia, os limites do politicamente correto ao abordar temas sensíveis sem concessões.
Spike Lee, com ousadia característica, usa essa história de crime para explorar desigualdades estruturais e dilemas éticos. Em vez de se restringir à trama central — um roubo de banco com reviravoltas enigmáticas —, o diretor provoca o público a refletir sobre o papel da polícia e as complexidades da justiça social. Em meio ao suspense, surge Keith Frazier, o detetive vivido por Denzel Washington, que, enquanto negocia com os ladrões liderados pelo enigmático Dalton Russell (Clive Owen), desvela camadas mais profundas da narrativa. Essa interação tensa revela que, além do crime, está em pauta uma crítica à hipocrisia social e à perpetuação de privilégios, evidenciada pela figura de Arthur Case (Christopher Plummer), um banqueiro com um passado obscuro.
Denzel Washington conduz brilhantemente o espectador por um cenário de incertezas e intrigas, imprimindo ao seu personagem um charme irônico que quebra a gravidade do enredo. Entre negociações, exigências absurdas e reféns que testam os limites da paciência, a trama mantém sua força com um humor sutil e reviravoltas que fogem ao convencional. Spike Lee entrega mais do que um thriller; oferece uma análise sagaz e contundente de temas sociais, mantendo o espectador preso a cada detalhe até o desfecho ambíguo e provocador.
★★★★★★★★★★