Desde que cruzou a linha de partida em 2001, a franquia “Velozes e Furiosos” tem desafiado convenções ao equilibrar um charme despretensioso com o que há de mais cafona no cinema de ação. Uma combinação de bravata exagerada, diálogos desajeitados e uma devoção sentimental ao conceito de família fizeram da série um fenômeno peculiar. Sob a liderança de Dominic Toretto (Vin Diesel), que eleva o conceito de lealdade familiar a um mantra quase religioso, os filmes construíram um universo onde a lógica é descartável e a ação reina absoluta. Com “Velozes e Furiosos 7”, dirigido por James Wan, a franquia atinge um novo ápice de criatividade delirante, agora imbuída de um peso emocional inédito devido à morte trágica de Paul Walker.
Wan conduz a narrativa como um maestro da loucura cinematográfica, coreografando cenas que alternam entre o impossível e o sublime. Desde uma perseguição em estradas montanhosas no Azerbaijão — com ônibus pendurados em precipícios e carros transformados em projéteis — até um salto de um supercarro entre os arranha-céus de Abu Dhabi, o filme celebra sua natureza absurda com um piscar de olhos para o público. Essas sequências, por mais surreais que pareçam, são executadas com uma intensidade tão contagiante que a suspensão da descrença se torna um pré-requisito natural. Em vez de buscar verossimilhança, Wan transforma máquinas e personagens em entidades quase mitológicas, dançando em coreografias impossíveis de destruição e acrobacias.
O que começou como um drama relativamente modesto sobre corridas de rua clandestinas e roubos evoluiu para um épico global, onde heróis outrora mortais agora desafiam as leis da física e da narrativa. “Velozes e Furiosos 7” abraça essa evolução com diálogos que oscilam entre o brega e o inspirador, colocando os personagens em uma missão que é ao mesmo tempo absurda e fascinante. Jason Statham surge como Deckard Shaw, um antagonista movido pela vingança que traz intensidade para cada confronto, enquanto coadjuvantes como o charmoso Kurt Russell e a hacker Nathalie Emmanuel injetam frescor em um elenco já consolidado.
Apesar de toda a adrenalina e caos cuidadosamente orquestrados, o filme não escapa de sua carga emocional. A perda de Paul Walker paira sobre a produção, emprestando uma melancolia inesperada à narrativa. Embora grande parte de suas cenas tenha sido filmada antes de sua morte, a edição habilidosa e o uso discreto de efeitos especiais garantem que sua presença seja sentida de forma orgânica e respeitosa. O clímax, um adeus agridoce ao personagem Brian O’Conner, é construído com uma delicadeza incomum para a série. A imagem final, de carros tomando caminhos opostos em uma estrada infinita, ressoa como uma metáfora poderosa sobre separação e legado.
Mais do que um simples capítulo na franquia, “Velozes e Furiosos 7” representa um marco: uma obra que combina espetáculo e emoção, absurdo e autenticidade. Ao expandir os limites de sua própria lógica, o filme encontra espaço para conectar seu público a algo maior do que perseguições de carros e explosões. É um lembrete de que, mesmo em um universo onde tudo é acelerado ao extremo, há momentos que pedem para ser saboreados com calma. Se este for realmente o encerramento de uma era, fica a certeza de que a jornada valeu cada segundo.
★★★★★★★★★★