Em 2023, a Netflix consolidou sua aposta no cinema polonês, com cerca de 15 produções originais lançadas em todo mundo do país. Entre os destaques, encontra-se “Amor Esquecido”, uma adaptação moderna do romance homônimo de Tadeusz Dołęga-Mostowicz, publicado em 1937. O filme, que também revisita clássicos cinematográficos de 1937 e 1982, oferece uma abordagem renovada ao legado deixado por Michal Waszyński e Jerzy Hoffman, mestres que marcaram época com suas versões distintas da história.
A origem do romance é tão fascinante quanto sua narrativa. Inspirado por relatos ouvidos durante uma visita a Radotki, Dołęga-Mostowicz soube de moradores que preferiam charlatães a médicos profissionais devido aos custos e à desconfiança na medicina tradicional. Entre essas histórias, destacou-se o caso de Ferdynand Dolani, um médico preso por se passar por curandeiro. Essas vivências alimentaram a criação de Rafał Wilczur, protagonista do enredo, um cirurgião renomado cuja trajetória é devastada por uma sucessão de tragédias pessoais e profissionais.
No filme, Leszek Lichota encarna Wilczur, um médico brilhante cuja vida desmorona quando sua esposa o abandona e ele perde a memória após um ataque brutal. Transformado em um andarilho sem passado, ele adota o nome Antoni Kosiba e começa a atuar clandestinamente como médico em uma aldeia rural. Sob essa nova identidade, Kosiba realiza milagres, como devolver a capacidade de caminhar a um homem anteriormente condenado à imobilidade e salvar Maria (Maria Kowalska), vítima de um grave acidente ao lado de seu namorado, o conde Czyński (Ignacy Liss). Contudo, essas atividades ilegais levam Wilczur ao tribunal, onde precisa justificar suas ações diante da lei.
Apesar das inevitáveis comparações com versões anteriores, o “Amor Esquecido” de 2023 não busca competir com seus predecessores. Sob a direção de Michał Gazda, a obra adota um formato acessível ao público global, equilibrando a essência do clássico europeu com elementos de apelo comercial. Com uma duração de duas horas e meia, a produção aposta em uma atmosfera visualmente impactante, marcada por tons frios e saturados, além de atuações robustas e uma trilha sonora envolvente.
O filme transita entre melodrama e espetáculo visual, ocasionalmente desafiando o espectador com cenas emocionalmente intensas. Embora isso possa dividir opiniões, Gazda demonstra habilidade em preservar a profundidade narrativa e reafirmar sua posição como um dos diretores mais promissores do cinema polonês contemporâneo. Para os que buscam histórias com maior densidade, “Amor Esquecido” oferece uma experiência marcante, ainda que sua proposta não seja destinada a todos os públicos.
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