Para muitos, o 11 de Setembro foi o Holocausto do século 21. Desconsiderando-se toda a polêmica que tal afirmação é capaz de gerar, entre os dois eventos há a clara coincidência de serem tão complexos, tão sombrios e tão cheios de desdobramentos que não raro qualquer tentativa de cristalizá-los num filme acaba parecendo uma megalomania leviana e acintosa. De todo modo, “Tão Forte e Tão Perto” encontra uma saída poética para abordar os ataques terroristas as Torres Gêmeas em 2001, arranhando o massacre de seis milhões de judeus ao longo dos onze anos em que Adolf Hitler (1889-1945) permaneceu à frente da Alemanha, entre 1934 e 1945. Stephen Daldry é um mestre em falar sobre o impacto de hecatombes sociais na intimidade de gente comum, o que já havia feito com louvável competência em “O Leitor” (2007), um tratado sobre ética e a importância das escolhas, que podem tornar-se maldições pairando acima de espíritos sensíveis. Agora, Daldry despeja num menino de onze anos as frustrações por uma morte abrupta, suavizada por um mistério lúdico.
A fé é o único jeito de se atravessar o tempo. Acreditar seja no que for — de preferência em algo que dê em boas condutas, bons resultados, na plenitude das intenções, na salvação, enfim — é o que faz o homem conseguir rejeitar sua natureza moldada pela destruição e buscar se redimir, para depois libertar-se de hábitos velhos e terríveis e estar apto a ser uma nova criatura. Conforme os anos se sucedem, mais a ideia de que tudo converge para um irremediável fim toma vulto, já que o plano físico, por mais amplo e até elástico que pareça, com sua ciência aplicada, firme no intuito de prolongar a vida do homem ad aeternum, é e sempre continuará a ser limitado.
Oskar Schell é um garoto de inteligência privilegiada, que entende tudo bem antes do que pensam os adultos, e também assim é quando da morte de seu pai, Thomas, com o choque do segundo avião. O roteiro de Eric Roth e Jonathan Safran Foer move-se quase inteiramente em torno do personagem do ótimo Thomas Horn, deixando possibilidades frutíferas para Tom Hanks, encarnação suprema do americano tranquilo. No primeiro ato, quando os dois estão juntos, o filme parece uma dramédia acerca das mazelas e delícias de pessoas que se gostam. Depois que o garoto ouve a segunda mensagem gravada pelo pai, ele se agarra à única prova de que tudo quanto tiveram valeu a pena: um envelope com a palavra “Black” dentro de um vaso.
Daldry lança mão de um doses equilibradas de realismo fantástico, de conto de fadas, dispondo de várias licenças poéticas, para persuadir o espectador de que uma criança pode andar sozinha por toda Nova York procurando por cidadãos que tenham Black no sobrenome. Como em “A Lista de Schindler” (1993), de Steven Spielberg, o compêndio de nomes desse Oskar também visa à libertação, mesmo que aqui as coisas apontem para um final feliz muito mais fácil. Até que para um menino ele é capaz de ir long
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